Ana Alice, 62 anos

Ana Alice

Ana Alice faz renda renascença pra “ficar fazendo mesmo”. Mas já construiu casa sendo rendeira. É agricultora, já foi professora e enfermeira. Hoje faz da sua pousada uma outra forma de renda, foi lá onde conversou conosco.

Por Luíza Maretto

Cama arrumada, lençol de flor, sopa quente pra nos receber. Ela nos espera chegar de noite, fica preocupada: “as minhas meninas estão atrasadas”. Café da manhã pronto no outro dia: cuscuz, banana, queijo coalho, bolo da padaria, café com açúcar… Casa de vó. Casa de Dona Ana Alice. Ali nos hospedamos, em sua pousada, a única da cidade!, em sua casa. Estendemos as toalhas no varal ou na cadeira da sala. Subimos e descemos as escadas. Ela nos alimenta de carinho e cuidado.

Agricultora, enfermeira, professora e ainda faz renda. Cuida da vida. Ela mesma. Constrói casa, trabalho, hospedaria. No cotidiano, os anos passam e os passarinhos da cidade cantam, todo dia. Na casa dela também. Conhece muita gente na cidade e nos indica várias mulheres: da mais velha a mais nova, da que desenha a que revende…

Pra conversar com a gente, o terraço da frente de sua casa fica com as portas abertas. Chuvinha fraca, mas presente. A vizinha entra, senta, escuta um pouco e sai. Meio ponto de prosa, a renda no colo. Outro meio, com as mãos soltas. E ela conta: foi embora quase tudo, mas se a feira voltasse…a paixão de fazer surgia com mais força, renascia, com certeza. E solta uma risada larga e gostosa. Ah, paixão!

Depois dos encontros de todo dia, nos despedimos em frente a sua casa: árvores e plantas que ela mesma plantou, e uma pedra que sentamos para nos aquecer. Sua fotografia é tirada ali mesmo. E também a nossa de todas juntas, na pedra! Calor suave do sol que aparece, em meio ao frio de julho na cidade. Grata, Dona Ana Alice, pelo calor da sopa de noite! Abrindo sua casa e seu coração, cuidando… e conversando pra aquecer.

História que foi a gente lembra e também conta pra desabafar, refazer em novas histórias. Pelo que estamos aprendendo, contar a própria história protege a vida!

Narrativa

Tudo foi no sítio

Morava no sítio, nasci no sítio, me criei no sítio, me casei no sítio, morei no sítio, tudo foi no sítio Paquivira. Eu já vim praqui (Poção – Centro) depois dos meus filhos grande, depois que fizeram a quarta série, que não tinha carro pra meus filhos vim do sítio, aí foi que a gente veio pra cá. Comprou o terreno ainda pra construir… eu vim praqui em 93.

Estudava na escolinha lá no sítio. No sítio a gente cresceu assim na roça, né? A gente só nunca limpou mato, mas a gente plantava, colhia, carregava mandioca, carregava tudo na cabeça, balaio de capim, balaio de mandioca. A gente tudo, papai, mamãe, e oito irmãos, cinco mulheres e três homens.

Aí depois que a gente passou… assim com 8 anos aprendeu renascença, aí, ninguém foi mais pra roça. Aprendemos no sítio. Quem ensinou a mim foi uma vizinha, foi tudo os vizinhos. Aquelas mulheres que já eram mulher rendeira, ensinava as mocinhas e ensinou a gente. Eu aprendi com minha vizinha, minha cumade, a mais velha… comadre Geralda, a outra aprendeu com Marieta…Aí as minhas irmãs foi a gente que ensinou, não precisou mais ninguém ensinar. Só duas aprenderam. Mamãe nunca aprendeu, nunca saiu da roça.

Só fiquemo na renda

Fazia pra vender na feira, vendia na feira, todo mundo. Era uma feira grande. Era tão bom de vender renda que a gente trabalhava a noite todinha no candeeiro, num candeeirinho de gás, aí quando era cedinho, a gente tomava banho e vinha pra rua, vendia as rendas, voltava pro sítio e vinha de novo  comprar material pra continuar a semana. Não levava nada, mulher, vendia tudo. Não sobrava nada assim, as rendas da gente.

Fazia eu e minhas irmãs, e ainda vinha as coleguinhas também fazer cerão e dormir, nós trabalhava a noite inteira. Na sexta-feira era a noite todinha. A feira era no sábado, dia de amanhã, aí, a gente queria terminar isso aqui hoje, aí nós tinha que terminar porque sabia que amanhã vendia.

Só fiquemo na renda quando a gente aprendeu, aí papai não levava a gente pra roça mais não, quando a gente era mais nova, quando a gente ficou tudo moça ele levou mais não.

A gente não fazia peça pequena a gente só fazia toalha, colcha de encomenda. Aí depois que a gente começou trabalhar pra gente a gente fazia jogo, empassadeira, umas coisa assim, essa peça pequena a gente não fazia muito não. Era o pessoal daqui mesmo, era… nós trabalhava pra uma cooperativa que tinha. Era gente de fora que vinha comprar, bastante gente de fora que vinha.

Levantei essa casa

Em 93, quando eu vim pra cá, aí meus filhos vinheram pra estudar que não tinha carro, né? E não podia voltar à noite, no escuro, aí a gente veio. Aí apareceu meio ponto na máquina. Vocês sabem o que é meio-ponto? Pregava renascença no linho na máquina, no meio-ponto.

Aí a gente tinha um gado, vendeu o gado e compramo máquina, aí trabalhei só no meio ponto até pouco tempo faz. Daí, eu trabalhava pra um homem chamado seu Inácio de Pesqueira, eu levantei essa casa e essa de cima, tudo com dinheiro de meio-ponto, de verdade, trabalhava dia e noite, construí minha casa e essa de cima.

Aí quando renascença acabou, aí eu pow!, vendi minha máquina. Aí, hoje eu não tenho mais essa máquina. Aí, de 93 até 2011, por aí eu fazia meio-ponto e dava um dinheirinho bom, aí foi daí que eu parei rensacença.

Mas eu digo a vocês isso aqui já deu dinheiro, viu? Hoje é porque cabou mesmo, mas isso aqui, a gente… os homens hoje só assim muito sossegado porque as mulher era que fazia a feira e era de renascenço e ainda hoje é. Tanta família pobre que tem que vem desmanchar um novelinho desse, vinte e cinco, trinta real aí no final de duas em duas semanas aí junta com bolsa família. Os homens aqui são sossegado, trabalha não quem segura a casa é as mulher.

Quando eu casei criei o marido e os quatro filho, é… isso mesmo. Eu criei mais três fora os meus. Eu só trabalhava pra casa, pra fazer feira. Sustentava a casa, toda vida eu sustentei a casa, agora não porque ele aposentou, aí eu não boto as coisas dentro de casa, mas toda vida fui eu.

Um canto pra dormir

Essa ideia foi por conta desse domingo de Ramos, porque chegaro, a gente nem tinha terminado essa casa, aí chegou um carro de gente aqui, umas van, procurando dormitório, um canto pra dormir, eu disse assim: “não tem não”, ele disse assim: “mas como é que eu vou ficar com esse tanto de idoso dentro desses carro?”, com a mão na cabeça, né? Eu fui e disse:” eu tenho uma casa, o senhor que dá uma olhada? lá tem um banheirinho”, Quando ele olhou ele gostou. Aí ficou todo mundo aí em cima. Passaram a noite muito bem obrigada aí.

Eu faço logo amizade com todo mundo. Aí pronto, quando esse pessoal foi embora, aí a gente botou o piso, aí apareceu um casal, passaram oito meses.

Aí eu falei pra meu marido: “Ô Naldo, vamo botar um dormitório aqui em cima?” aí ele disse: “oxe, tá ficando doida, é?” eu disse: “não Naldo, eu acho que dá certo”. As meninas também não deixaram, mas eu não ouvi ninguém, aí peguei botei umas cama lá. De lá pra cá… tá dando certo. Não é muita coisa, mas tem um pouquinho, melhor que fechada, do que alugada.

Toda vida eu gostei de trabalhar e eu gosto muito do público. Eu não gosto de ser uma pessoa isolada eu gosto de gente, entendeu? é por isso.

Aula

Eu fizi o segundo grau. Quando eu tava com 16 anos eu estudava nesse colégio aqui, meu pai comprou outro sítio bem distante e foi morar, aí ficou eu e minha irmã. Aí, tavam procurando uma pessoa pra dar aula no sítio, aí me escolheram, e eu fui dar aula nesse sítio. Eu dei aula 22 anos, ganhando pouquinho da prefeitura, muito pouquinho. Dava aula aos adultos.

Enfermagem

Surgiu um concurso do estado pra enfermagem, e eu leiga, sem saber de saúde, juntou umas dez aqui e foi fazer, dessas dez passou duas, passou eu e uma colega. Sem saber nem onde era a porta de um hospital, fomos chamadas, mulher. Fomos chamadas pra Caruaru, passei 3 anos e meio, como enfermeira. Depois fui pra Arcoverde e trabalhei oito anos e pouco ainda lá. Eu sei que juntando tudo eu trabalhei uns 15 anos e três meses na saúde. Aí me aposentei (como enfermeira), a filha vai inventa de fazer odonto, eu pego meu salário passo pra filha pra pagar a escola dela que ainda hoje eu pago. Aí, fiquei, me aposentei pago a escola dela hoje. Gente pobre que inventa as coisas parece que é pra sofrer.

Agricultora

Eu fui agricultora, eu tenho ficha de agricultora, quando eu casei eu ainda fui pra roça muito tempo com o marido. Pensa que eu fiquei só na escola e com os filhos? eu trabalhei muito na roça, com gado, fiz tanto queijo, vixe maria! Trabalhei demais na roça.

Renascença

Fazia renascença… eu fui uma lutadora pela vida, graça a Deus. Graça a Deus minhas filhas estudaram, fizeram magistério, fizeram faculdade, com todas essas lutas. Cuidei da casa, eu nunca botei ninguém pra cuidar da casa, toda vida só foi eu e meus filhos. Todo mundo diz que foi um bom investimento, que deu certo, que foi muito bom, dá esses elógios assim… Que eu sou uma guerreira, todo mundo quem me conhece… eu sou na luta.

Gosto de fazer renda. Mas assim… não é pra me manter não. É só pra ficar fazendo mesmo. Hoje não é mais pra me manter não.

Hoje em dia eu trabalho no colo, mas hoje em dia se eu trabalhasse muito por conta da coluna eu tinha que tá numa mesa firmezinha. Aqui não que eu trabalho pouquinho. Mas na mesa você se apoia bem e não é em rolo não, é um travesseiro assim quadrado. Todo mundo tinha o seu travesseirinho de trabalhar.

Muitos eu aprendi sozinha, ó, traça eu aprendi sozinha, agora o richelieu, a malha, o dois amarrado foi com minha cumade, agora a traça eu aprendi só, a cianinha aprendi só. Só a pessoa vendo outro fazer aprende, que eu já tenho assim… uma noção, né?

Mulher, antes tinha mais valor, hoje caiu muito, hoje caiu muito. Eu acho que é as fábrica, né? As fábricas tomaram conta de comprar barato, de fazer mais barato, de fazer o material, de vender mais barato aí a renda caiu. Caiu muito. Era uma feira enorme ali na praça.

A feira da renda não tem mais. A gente hoje fazia com ansiedade pra vender amanhã, que amanhã a gente tinha dinheiro. Hoje  a gente faz e bota aqui, ó, dentro dessa bolsa e não tem a quem vender. Eu vendia a minha a uma menina aí, a  Célia, porque ela ia pra Feneart aí ela falou: “tu ainda tem aquelas frentinha que tu tava fazendo?” Eu falei: “tenho Célia”, peguei e vendi a ela, aí ela foi pra Feneart.  Na fábrica faz muita toalha ainda, faz… lençol de cama, né? passadeira enorme, elas fazem ainda.

A gente não tem mais gosto de fazer isso não

Pra mim hoje é só pra passar o tempo, mas não tem não. Como é a gente mesmo que faz, a gente não dá muito valor não, acredita? A gente liga não. Dá muito valor a isso não. Agora quando a gente fazia e vendia, e se mantinha e dava pra fazer uma feira  e dava pra cuidar dos filhos, aí a gente fazia com gosto, mas hoje, a gente não tem mais gosto de fazer isso não.

Eu fiz meio-ponto de tanta toalha, olhe, era toalha redonda, toalha de estrela, toalha de toda qualidade chegava aqui, era só mais toalha, por isso que dava um dinheirinho bom, porque era no metro. Toalha de 4m, era muito bom.

Eu faço assim porque eu gosto, mas não é essas belezura não. Bordado é mais bonito, eu gosto mais de bordado, renascença… é porque é a gente mesmo que faz, né? aí, a gente não dá valor a isso não, a essas coisas não.

De qualquer forma eu tô entertida né? eu gosto, de ocupar a mente com renascença.  Eu vou ficar com minha neta agora de noite, aí ela fica só com os brinquedo dela e eu fico fazendo, agora de noite eu faço essa tirinha. Eu fico com ela lá trabalhando, hoje termino e não sei o que eu vou fazer, eu já alinhavei outra coisa ali… Esse eu tô na intenção de fazer um pano de geladeira por que eu não tenho nada, então vou fazer pra minha casa.

Era muito bom, pra pobreza era a melhor fonte

Essa é a realidade da renascença era a vida financeira, porque os homens não trabalhavam, porque aqui não tem fábrica, não tem industria, né? Aí a gente se mantinha com isso. Era pra manter a vida financeira, da casa, dos filhos, e era toda mulher, aí por isso que hoje a gente não tem nada de renda, não tem uma blusa, não tem nada. Porque só era pra vender, pra render a casa. Aí é que os homens só ficavam na calçada mesmo, só vagabundando, não trabalhavam não. Aí quando a renda acabou foi embora tanta gente daqui, foi embora muita gente, aqui era 11 mil habitante agora tá em bem pouco. Era 11 não, era 13 e tá em 11…

Mulher, a maioria se aposentou com 55 anos aí tá vivendo a vida, a maioria delas. Essa meninada nova não sabe o que renascença, não querem nada com a vida. Com renascenço? de jeito nenhum. Faz não. Você hoje só vê uma pessoa de idade fazendo renascenço, você não vê uma menina fazendo renascenço. Aonde a gente, minhas meninas, com sete anos já fazia. Tira lá de casa a mais nova não sabe de nada de renascenço, as duas mais velhas faz, com sete anos as bichinhas aprenderam. Aí já se vestiam, já se calçavam, tinham o maior gosto de fazer um jogo pra comprar um tênis, era bom. Elas mesmas se vestiam e se calçavam, mas hoje a renascenço acabou.

Quando o dia amanhecia eu só era tomar banho e já vinha pra feira, aí eu já levava carne e pão pra tomar café, aí quando chegava em casa, elas acordavam porque eu deixava dormindo, oia. Deixava o marido tirando leite, as meninas dormindo e eu ia sozinha. Mais tarde eu vinha de novo comprar material, fazer a feira, a gente fazia feira por semana. Todo mundo, todo mundo, toda mulher.

Agora se voltasse a feira de verdade, se tivesse preço, tivesse valor, eu fazia. Ahh, não media esforço pra trabalhar, eu não tenho preguiça, eu gosto de fazer renascença, eu gosto. Eu gosto mais do richelieu porque é mais rápido o ponto é mais devagar, mas esses pauzinhos, essas malha é rápido, eu gosto. Mas se voltasse a renda, oxe, quem mais trabalhava era eu.

Muita gente aqui que tem o padrão de vida melhor foi da renascenço, porque dava depois que tava pronto ia vender fora, dava bem baratinho vendia caro e foi crescendo subindo na vida, mas hoje já não tem mais…

Era muito bom, pra pobreza era a melhor fonte. Mulher, eu não sei não, foi depois dessas fábricas que não tinha essas fábricas não, tinha o fabrico de material, o material fabricava, mas a renascença assim pra… que elas pegaram as trabalhadeiras tudo pra elas, aí além de pagar barato… acabou, aí outros deixaram que não vaia a pena, mas foi essas fábricas mesmo.

Olhe, veja só, eu vendo uma palinha dessa por 11 reais, uma peça de lacê é 6,80 e a linha mais fraca é 6,80 se eu for fazer uma da linha melhor é 11,80, aí já vai em quanto? 13, aí você pega e vende por 11, que não dá pra fazer duas. Com o lacê uma peça só são 10 metros aí não dá pra fazer duas. Tem futuro? Eo trabalho? nem cobre. Por isso é que a gente vai fazer as contas e não vale a pena, não vale.

De primeira a gente fazia peça fechada, não pregava em linho não, era só renda pura. As toalhas era renda pura, toalha, colcha, toalha redonda, oval, de todo tamanho, mas era renda pura, não tinha esse negócio de linho não.

Eu ainda  tentei também armar um bocado de tempo. Eu também já comprei a renda, já armei muito. Teve um tempo que eu tava com um saco assim de renda tudo montado. Aí fui vendendo vendendo cabou-se.

A gente dizia assim, comprava o cangaço e armava. Aqueles buracos assim faltando e armava, bordava e vendia. Cangaço é antes de receber o tecido que é o linho. Nessa parte que recebe o linho faz os bordados.

A história é que hoje não faz mais essas malha, faz só o pauzinho sem essa aqui aí eu sinto muita falta dessa malha. Eu gosto de fazer ela, tem agulha apropriada pra ela. Essas malhinhas assim. A agulha de malha é do fundinho redondo. Esses caseadinhos eu faço com ela. é uma dificuldade pra se fazer malha. Porque quando você enrola a linha que puxa, se não for no fundinho redondo não passa engancha. Ah, minha filha com uma agulha eu trabalho rápido, eu faço rapidinho essas cabecinhas, gosto muito.

Uma mulher independente

Mulher, uma mulher independente é viver a sua vida sozinha sem depender de ninguém, nem de marido, nem de filho, eu acho pra mim assim… eu gosto de ser independente. Você acredita que eu gosto? Eu gosto de ser independente. Ninguém pegue no meu pé, deixe eu! Eu gosto de fazer as coisas do meu jeito, não gosto muito de pedir nem de mandar não. Eu gosto de ser independente.

O que é ser mulher? Rapaz, cês me pegaram, sei não. Eu acho que ser mulher deve ser o quê… deve ser uma boa dona de casa, uma boa mãe, uma pessoa responsável, eu acho que é, é ter seu compromisso certo, ser honesta. Fazer as coisas tempo e a hora.

Eu sou mil e uma utilidades

Olhe, a importância do trabalho pra mim significa muita coisa. Só eu não depender dos outros pra mim é tudo. Não depender de marido, nem de filho, nem de nada pra mim é tudo. E é muito importante trabalhar, e é muito bom, muito bom ter o que fazer é muito bom. Eu sou uma pessoa que não gosta de tá parada, eu gosto de trabalhar eu gosto de ajudar, olhe eu moro aqui eu ainda dou assistência pra minha filha, fico com a menina. Minha irmã sai eu fico com mamãe, meu sobrinho sai eu fico no mercadinho e é assim, ainda vou pro sítio passear, trabalhar eu não volto mais não, mas sempre a gente vai pra o sítio e é assim. Só eu e o marido e eu faço tudo. Aí eu digo: “eu sou mil e uma utilidades” porque eu dou assistência a muita gente e ainda cuido de muitas pessoas aqui. Por aí nós vamos vivendo a vida.

Faz parte da vida né? a gente conversar, se divertir, desabafar, isso é bom. É preciso pra sair as mágoas.

Eu não tenho ainda um desejo não. A parte da vida por viver é boa, por outro sentido eu não tenho paixão por nada assim… Até hoje eu fico me perguntando: “o amor existe?”, mas se existisse não acabava, né? Mas disse que é…O povo diz assim: “quem ama não trai” “A ingratidão perde a feição” aí é isso que a gente perde no dia a dia, as ingratidão a gente vai perdendo. Eu não sei se o amor existe e a gente se apaixona e aquilo cai, não sei… Eu não sei se é a ingratidão também que as pessoas vai desgostando, eu não sei…

Sou poçãoense com todo orgulho

O que eu posso dizer de Poção é que eu gosto muito daqui. Porque tem pessoas que moram aqui que não dá endereço aqui e não dá, não diz que mora. Apói, minha filha, eu sou poçãoense com todo orgulho, não tenho vergonha de dizer a ninguém que eu sou poçãoense. Eu gosto da minha cidade, nasci aqui, me criei aqui, conheço todo mundo, vivo sossegada tranquila, não tenho aborrecimento com ninguém, pra mim todo mundo é bom, gosto de todo mundo, não tem o que dizer… pra mim é ótimo minha cidade. Em todo canto tem coisas errada, às vezes tem violência essas coisas, mas em todo canto tem, né?  Mas aqui nem tanto graça a Deus, eu gosto da minha cidade.