Rosiane, 43 anos

Rosiane

Rosiane, com sua voz serena, nos recebeu em sua casa, no Sítio Pá Seca, na zona rural de Macaparana. Enquanto os seus filhos brincavam, ela nos contou das suas vivências com o crochê. 

A delicadeza de suas peças mostram a dedicação e o carinho com que ela se debruça para fazer o crochê. 

Rosiane apareceu para o projeto por sugestão de Milene. Quando chegamos em sua casa, conhecemos sua mãe e seu pai, que moram ao lado dela. O sol estava tão quente, que não resistimos ao “dudu” da sua mãe. Após essa pausa, seguimos para sua casa e conversamos sobre as histórias que tecem tanto a vida de Rosiane como o seu delicado crochê.

Rosiane mostra uma calma e uma determinação presente nas mulheres crocheteiras. Na sala da sua casa, com vários trabalhos tecidos, ela nos mostrou com cuidado e serenidade suas peças ao som da narrativa de suas histórias de vida, de mulher e de artesã.

Narrativa

NÃO ME RECORDO DE NADA RUIM

Nasci em Macaparana. Eu morava em outro Sítio Jitó, quando eu vim pra cá [Pá Seca] eu acho que eu tinha uns quatro anos. Eu passei por umas, acho que umas três casas antes de chegar aqui.
[A infância] Foi boa. Graças a Deus eu tive uma infância, não me recordo de nada ruim. Graças a Deus o que eu tenho é saudade, bons tempos, né? Acho que o melhor tempo, melhor fase da vida de uma pessoa.

MINHA PRIMEIRA AGULHA DE CROCHÊ

Eu aprendi eu tinha 12 anos, aprendi com Gilvane, uma colega da escola. Margarida [a mãe] já aprendeu comigo. Minha primeira agulha de crochê quem me deu foi ela, minha amiga de escola, e na escola mesmo, nos intervalos mesmo, a gente ficava tentando fazer, né? O primeiro trabalho que eu fiz foi uma passadeira de mesa, não saiu muito boa, né? foi a primeira, mas foi melhorando. E até hoje eu nunca deixei de fazer.

FIZ PEDAGOGIA

Eu estudei o primário nessa escola aqui do Sítio [Escola Paulo Fernando], e depois fui pra Macaparana. Estudei na escola Creuza de Freitas até o segundo grau, depois fiz faculdade em Pedras de Fogo. Fiz Pedagogia, depois fiz Psicopedagogia, uma especialização.

Eu ensinava [crochê na escola] porque eu trabalhava com crianças e adolescentes, eu ensinava na parte de artesanato, né? Nesse artesanato incluía o crochê. Muitas meninas por aqui, do outro lado do Pá Seca, sabem fazer crochê.

Eu começava [a ensinar] pela trancinha né? A trança, depois o ponto alto. Quando elas aprendiam o “ponto-alto”, eu ensinava a fazer os quadradinhos, depois dos quadradinhos, vamos fazer um pontinho-cheio, depois do ponto cheio eu quero o “ponto-pipoca”.
Hoje tem meninas que fazem muito bem. Teve outras que não tinham aquele dom e não tinha jeito nenhum, aí não saía não. Tentava, se aperreava, “ah, professora não consigo!”…

Eu acho que umas vinte meninas… sempre teve mais menina do que menino. Tinha menino na turma; agora, pra se interessar… a gente procurava outra atividade pra eles fazer enquanto as meninas tavam fazendo crochê.

SOU CASADA, TENHO TRÊS FILHOS

Durante o dia minha atividade é cuidar da casa, dos meninos, levar pra escola, e é casa e crochê, até meia-noite.
Só trabalho com crochê. Antes eu trabalhei na escola como Orientadora Social, com a mudança de prefeito eu fiquei dois anos ainda porque eu tava grávida… Hoje faz quatro anos que eu tô sem trabalho, só no crochê.

O QUE EU MAIS GOSTO DE FAZER É COISA DE BEBÊ

Começou com um sapato. Eu fui e fiquei de fazer o aniversário de Benjamim, do Mickey, aí comecei a fazer sapato [de crochê] pra botar no pé de Benjamim. Como eu não achei um sapato amarelo, eu fiz o sapato amarelo de crochê. Quando eu postei no “face” a foto do sapatinho amarelo, o pessoal já se encantaram com o sapato.
Aí: “tu faz de menina?” aí eu: “faço!”. Fiz um pra uma prima minha que tava grávida de menina… o pessoal foi gostando e foram mandando cores e modelos.

Agora, no momento, o que eu mais gosto de fazer é coisa de bebê. Às vezes eu estou bem empolgada nas coisas de bebê, o pessoal vai e encomenda um de adulto, tipo uma saída de praia, né? eu já vou trabalhar mente, né? Eu gosto mais de fazer coisa de bebê, até saída maternidade eu faço.

Hoje [na internet] a gente vê muita coisa, muito modelo, muita inspiração. Abre a mente. Quando a gente se perder numa coisa a gente vai lá e acha um vídeo no Youtube já ajuda, né?

PRA MIM TEM MUITO VALOR

Pra mim tem muito valor, porque no momento é com o que eu me viro. É com esse trabalho. Cada peça que eu faço é uma benção pra mim.
No crochê tem o “ponto-japonês” e o crochê de grampo, que eu sou louca pra aprender. Quando eu tiver com poucas encomendas, eu vou nos vídeos aprender.

Eu estudei tanto e faz tanto tempo que eu tô parada que a escola eu não vejo muita vontade de voltar, tá entendendo? eu posso até voltar ainda, mas eu não tenho aquela vontade não.
Eu já fiz vários concursos, fiz um e passei e não fui chamada. Fiz outros que não passei.
Grávida e desempregada, eu fui fazer crochê.

ENCOMENDA PRA ENTREGAR E MENINO PRA CUIDAR

Encomenda pra entregar e menino pra cuidar. Não é brincadeira, não. A gente fica sem saber o que faz primeiro. E, assim… penso em trabalhar fora e penso em deixar, porque mãe, né? Dá vontade de “vou embora trabalhar em Recife”, mas penso “quem vai cuidar dessas minhas bênçãos?

Trabalho? trabalho é o que eu faço de manhã até meia-noite.