Apresentação

Apresentação

por Clara Nogueira

O projeto “Artesãs Têxteis de Pernambuco” é uma pesquisa cultural que consiste no mapeamento afetivo das mulheres que trabalham com materiais têxteis em Pernambuco, com a intenção de dar visibilidade e protagonismo a essas mulheres.

Este site, “Mulheres que Tecem Pernambuco”, é o resultado desse projeto, aprovado pelo Edital 2015/2016 e pelo Edital 2017/2018 do Fundo de Incentivo à Cultura – FUNCULTURA.

O objetivo deste site é divulgar e fazer emergir o encontro entre as narrativas das mulheres que são responsáveis por tecer de importância e resistência suas práticas culturais, em meio à distopia real na qual seus trabalhos estão envolvidos. Além de deixar acessível essas narrativas, este site contém materiais audiovisuais, fotográficos e escritos que representam um esforço para tirar da invisibilidade a realidade dessas mulheres, bem como de suas práticas culturais e de seus locais de vivência. Enlaçando, portanto, uma teia complexa que une relações de gênero, as subjetividades, suas práticas têxteis e o território. Todo o produto do site é resultado de uma pesquisa cultural.

Dessa forma, o mapeamento abrange essas complexidades tendo as narrativas das mulheres como foco principal. O mapa do site é um tecido, feito por mulheres e suas histórias, sendo suas práticas têxteis o fio condutor que as une. Conversamos com mulheres que fazem o artesanato atualmente ou que já o fizeram no passado, que têm esse ofício como principal ou complementar à sua renda, ou que utilizam das práticas têxteis em seu cotidiano sem comercializá-las. Não foram exigidos, portanto, cadastro/documentos que as vincule à profissão de artesã.

A plataforma de divulgação de informações será atualizada, trazendo mais mulheres, especificidades têxteis e territórios. Em 2017 executamos a primeira etapa dessa experiência (Edital 2016) e trouxemos em 2018 o resultado da vivência e conversa com dezoito mulheres de três cidades de Pernambuco: Lagoa do Carro (Zona da Mata Norte), com a Tapeçaria; Poção (Agreste Central) com a Renda Renascença, Tacaratu (Sertão Itaparica), com a Tecelagem. Fomos contempladas novamente (Edital 2018) para trazer a experiência com a ída, em 2019, em mais duas cidades: Passira (Agreste Setentrional) com o Bordado Manual e Macaparana (Mata Norte), com o Crochê. E as narrativas de mais 13 mulheres. Disponibilizamos aqui, portanto, a fala de 31 mulheres que tecem em Pernambuco, até agora.

De onde nasce a vontade, onde se dá os primeiros pontos

por Clara Nogueira

Ainda criança pequena, aprendi o bordado tradicional, o ponto-cruz e o crochê em um Convento. Era um semi-internato exclusivo para meninas. No Convento de Santa Tereza, em Olinda, Pernambuco, havia o Educandário de Santa Tereza, uma escola mista, onde estudava pela manhã. Aprendi a escrever, ler, e dar os primeiros pontos na mesma época. O convento era dirigido por freiras que contratavam professoras para nos ensinar técnicas para nos fazer “prendadas”, “habilidosas”, ou para que estas se tornassem um ofício. Passei toda minha infância tendo essas aulas. Eram longas tardes dedicadas aos pontos, a desatar nós, cercada por meninas como eu, com mãozinhas que foram aprendendo a dançar com fios e tecidos, num balé silencioso que marcou toda a minha infância.

Esse conhecimento foi tramado em paralelo na minha vida, desde que saí do Santa Tereza, aos 11 anos, até minha gravidez, em 2013. O bordado livre foi usado como meio de expressão e experimentação durante esse processo introdutório da maternidade, e da minha nova condição de mulher/mãe. Passei, então, a produzir essas divagações artisticamente sob várias linguagens visuais, em todas elas utilizando as matérias têxteis (linhas, tecidos) como meio, do que viria a ser o “Linhas de Fuga” – meu projeto pessoal.

Em 2014, portanto, veio a divagação que se transformaria nesta pesquisa. Como as costuras da vida se tornaram um mote instigante para tentar discorrer sobre as práticas têxteis, e para adentrar nesse universo sob esse viés, teci o que seriam as primeiras perguntas que nortearam os primeiros pontos da pesquisa. Por conta do meu envolvimento com o universo das linhas desde criança, de antemão eu sabia que em Pernambuco é produzida uma pluralidade de especificidades têxteis: renda renascença, bordado tradicional, tapeçaria, crochê, tecelagem. Diante da condição de mulher, passei a pensar em outras mulheres que usam das práticas têxteis como meio de expressão, trabalho e sobrevivência.

A pergunta que me (co)movia, portanto, era: quem são essas mulheres? – sendo este o motivo primeiro que me trouxe a ideia desta pesquisa. Minha formação em Arquitetura e Urbanismo não me deixou ilesa ao pensar nos territórios que as abrigava: onde elas estão, moram, vivem? Comecei a pesquisar sobre, mas as respostas eram escassas, fragmentadas. Algumas informações aqui e acolá sobre as especificidades têxteis, mas nada, ou quase nada sobre as mulheres que as fazem, somente muitas mãos sem rostos. O que tornou a curiosidade no desejo, e a vontade de conhecê-las na necessidade da pesquisa.