Lourdes é uma das fundadoras da Associação de Mulheres Produtoras de Olinda – AMPO. Tem as mãos ágeis para fazer fuxico e uma grande disposição para o trabalho. Nasceu em Recife, mas há mais de 40 anos mora em Olinda. Aprendeu a fuxicar, a costurar, cozinhar com sua mãe. Carrega essa sabedoria e a compartilha nas suas relações e no seu trabalho.
A conversa com Lourdes aconteceu depois de alguns desencontros devido às fortes chuvas que trouxeram transtorno para a Região Metropolitana do Recife, em 2022. Conseguimos então marcar com ela no início de fevereiro, quando ela nos recebeu na loja da AMPO – Associação de Mulheres Produtoras de Olinda ― que atualmente coordena.
Lourdes aparentemente discreta, logo se mostrou uma boa “fuxiqueira”. Nos contou que logo cedo já havia feito 60 fuxicos, sua especialidade no artesanato têxtil. Com as mãos ágeis, ela faz colares, flores, colchas, capas de almofada e muitas outras peças com a técnica do fuxico, que aprendeu com a mãe quando ainda era menina. Outra coisa que Lourdes também aprendeu, mas agora com a figura paterna, foi lidar com o dinheiro e saber negociar. Nos contou abertamente sobre o desempenho da AMPO, a partilha de saberes e a transparência nas relações entre as associadas.
Orgulhosa e confiante de seus investimentos, se vê hoje como uma mulher que alcançou o que desejava, mas que procura sempre novas oportunidades para empreender, aprender e partilhar o que tem.
(conversa realizada em janeiro de 2023)
Narrativa
Eu nasci em Recife, certo? Já quarenta anos que estou aqui em Olinda, trabalhando, né? Sempre com artesanato, principalmente fuxico, que é a minha arte, é coisa assim que eu sempre fiz desde 1978, aprendi com minha mãe.
aprendi todas essas coisas com ela
Nós somos três mulheres e três homens. Minha mãe era costureira, dona de casa, fuxiqueira e bordadeira. Então, eu aprendi todas essas coisas com ela. Que me valeu até hoje, que me valeu até hoje. Que aprendi, divulguei, e cheguei onde eu cheguei, porque fuxico faz parte, eu acho que da nossa vida, porque é ele que nos dá… não digo a você que é sustentabilidade, mas eu digo que é apoio pras coisas extras que nós precisamos.
Turista!
Aí eu lembrei que quando eu era criança a professora me perguntou, aos alunos todos “o que é que vocês vão ser?” eu disse “turista!”, aí ela me olhou pra mim e disse “turista? você sabe o que é turista?” Eu disse “não, mas vou aprender a ser”. Então, eu queria ser turista, queria pessoas diferentes e lugares diferentes. Aí, quando eu me vi trancada naquele escritório eu disse “não, não é a minha vida, eu vou voltar pra trabalhar com minha mãe”, que é fazer fuxico, bordar, cozinhar, costurar, fazer bolos pra festa, salgados e foi isso aí que eu conduzi.
AMPO
Agora já na minha terceira idade, há dezoito anos atrás, juntei um grupo de mulheres e formamos a associação, que é a AMPO – Associação das Mulheres Produtoras de Olinda, onde eu distribuo tudo que eu aprendi com as pessoas, porque elas precisam também ganhar seu dinheirinho.
A AMPO ela surgiu lá no começo de 2004, porque surgiu uma oportunidade aqui na época que a prefeitura [de Olinda] tava abrindo inscrições pra artesãos, aí eu disse assim “eu vou me inscrever”, quando eu cheguei tinha muitas outras mulheres que estavam se inscrevendo também.
Então, essa inscrição seria pra que a gente participasse dos eventos que a Prefeitura fizesse pra valorizar o artesanato local, nós nos inscrevemos. Quando nós saímos, saímos um grupo de mulheres, aí eu disse “ô, minha gente, porque a gente não se junta pra fazer um movimento e ter um grupo?” Aí uma disse, a outra falou, passou… Aí teve uma segunda reunião, nessa segunda reunião elas já voltaram com a cabeça “vamo juntar”, juntamos, foram oito mulheres, a gente se juntou e começou a fazer e participar desses eventos que a prefeitura fazia. Dessas, oito mulheres se multiplicaram pra doze, se multiplicaram para dezesseis, e foi se multiplicando.
Chegou um momento que a coordenadora do projeto disse assim “Porque vocês não formam um grupo centralizado no que vocês querem?”. Aí a gente começou a formar, juntamos fuxiqueiras, bordadeiras, reciclados, foi uma coisa muito importante, inclusive, a gente fez um trabalho maravilhoso, customização, crochê. Então essas mulheres que faziam esse trabalho a gente começou a sinalizar e como liderança, você sabe que sempre ter alguém que lidere, né verdade? que busque. Então a Coordenadoria da Mulher na época era uma senhora chamada Donana, excelente pessoa, nos ajudou muito. Ela disse: ” a partir de agora vocês vão se chamar Rede de Mulheres Produtoras de Olinda”, aí foi quando surgiu a Rede de Mulheres.
De 2004 a 2006 foi esse período assim de organização. 2006 quando a gente tentou se registrar aí não podia ser “Rede de Mulheres” teria que ser “Associação”, porque rede é uma cadeia onde abarca muitas outras pessoas, né verdade? Aí a gente botou “Associação”. Aí a gente pensou, como seria o nome? vamo juntar, AMPO? Associação das Mulheres Produtoras de Olinda”, então a gente registrou em 2010. A gente se juntou e cadastrou. Nessa época a gente já tinha quase cinquenta mulheres, e o movimento foi crescendo… mas você sabe, tudo tem começo, meio e dificuldades, né verdade?
Quando surge as dificuldades maiores, aí o que é que acontece uma sai prum lado, ou se não aprende e vai seguir sozinha. Eu até às vezes digo que a AMPO foi uma escola onde as pessoas aprenderam a se articular e viver seu projeto.
economia solidária
Foi quando eu conheci a economia solidária, em 2006, quando eu fui pra primeira conferência. E, lá quando eu cheguei eu me senti assim um peixe fora d’água, porque eu não entendia de nada, fui pura e simplesmente por ir, porque eu era muito atrevida, como ainda sou.
Aí fui pra essa reunião e por sorte me sentei perto de uma jovem, que quando começou aquela palestras, aquelas coisas, eu estava totalmente aérea, mas eu falei pra moça do lado “mas moça eu tô me sentindo um peixe fora d’água” ela disse “não se sinta o peixe, se sinta um pássaro porque daqui pra frente você vai parar e várias paradas e vai aprender muita coisa”, dito e feito.
Então eu vivenciei a economia solidária até 2014, onde fiz todas as formações necessárias e aprendi tudo que eu sou hoje. Porque eu acho que a economia solidária ele é uma ação de trabalho coletivo, onde todos têm que contribuir pra que aquilo cresça. Porque o Governo, os projetos, existem muitas outras coisas por aí, mas se a gente não se articular com nós mesmas e enfrentar as dificuldades e esperar que chegue na nossa mão não vai chegar.
É tanto que hoje nós temos uma casa, que eu chamo de “a casa da AMPO”, que é uma casa que a gente tem pra encontros [localizada na Rua do Sol], temos essa loja maravilhosa [localizada na Rua de São Francisco] e temos a nossa Feira.
A Feira com apoio da prefeitura de Olinda, em todas as gestões de 2006 até agora, eles nos dá o espaço em frente a Biblioteca [Biblioteca Municipal de Olinda], onde a gente faz a nossa Feira. A gestão da Biblioteca nos ajuda muito e a prefeitura que nos dá esse espaço.
E hoje a gente tem uma Feira de economia solidária, onde o custo mínimo de uma barraca é R$50,00, dividido pra duas pessoas é R$25,00. Por quê nós cobramos? Porque nós temos despesa pra colocar, pra retirar, e outros mais, né verdade? E, que aí, eu sei que a AMPO ela tá no percurso assim, todos colaboram, todos contribuem e a gente paga nossa loja, nossa casa e o que sobra da Feira a gente emprega no nosso empreendimento. Essa é a AMPO.
Quando começamos só eram mulheres de Olinda
Eu digo com muito orgulho, sabe por quê? Porque foi uma construção coletiva. Hoje, no momento só temos vinte e duas [mulheres associadas].
Quando começamos só eram mulheres de Olinda, que era uma regra, com o passar do tempo, aí foi liberado pra todas as mulheres da Região Metropolitana, certo? Aí temos pessoas do Recife, temos pessoas de Jaboatão, de Olinda, que é a maioria porque é mais próximo e assim a gente vai agregando, de Camaragibe. Já tivemos pessoas aqui de Itamaracá, mas que elas não se agregaram porque é muito distante pra elas virem, então hoje a gente não faz distinção, de onde tiver pode vir.
Oficinas
Essa pandemia ela desorientou muita gente. Antigamente eu fazia Oficina de Flores, Oficina de Fuxico… não só eu, como todas as nossas colegas. A gente tem pessoas que faz Oficina de Customização, Crochê, Bordados, Reciclados. Inclusive, do reciclado a gente fez em 2010 ou 2012, a gente reciclou sombrinhas que iam ser jogadas no lixo, aí veio uma ONG e nos ajudou, na época, eu fiz uma campanha “doe cinco sombrinhas que você tira do lixo que você ganha uma sacola ecologicamente correta”, que era uma sacola que a gente distribuía. Com isso a gente conseguiu 3.000 sombrinhas, aí essa ONG que nos ajudou pedindo pra gente fazer sacolas, 2.000 sacolas da JEEP, daí em diante, todas sacolas que eu faço pros clientes eu faço reutilizando tecido de sombrinha por quê? a natureza agradece.
Fuxico
Eu conheço o fuxico desde que o mundo é mundo, né? Fuxico não tem dono, foi criado dizem uns que foi na Holanda, num sei de que lugar surgiu, mas que ele surgiu, surgiu. E, na época [em que aprendeu] a minha mãe era costureira, certo? e ela costurava para o exército e eu tinha um vício triste de desfiar tecido pra fazer linha, entendeu? aí nessa época, minha mãe disse, numa dessas brincadeiras eu terminei prejudicando um trabalho dela, aí ela olhou pra mim e disse assim “olha, a partir de hoje você não vai mais desfiar linha você vai aprender a fazer fuxico” e eu disse “o que é fuxico?” e ela disse “eu vou lhe ensinar”, aí o fuxico surgiu na minha vida dessa maneira.
Ela pegou um copo, colocou em cima do tecido, cortou e franziu e puxou. Aí ela disse “a partir de agora você vai fazer aprender a fazer isso e vai fazer que quando você tiver cem fuxico você me mostra” aí eu me entusiasmei, achei muito interessante aquilo. Aí depois que eu fiz cem fuxicos ela disse “agora sente pra aprender colar” e colar sem deixar que as pessoas vejam o acabamento. Então foi ela que me ensinou e o fuxico, na minha vida, surgiu de dessa maneira, isso em 1978.
Ela disse: “a partir de agora você não desfia mais tecido e todo retalho você vai fazer fuxico, alguma coisa, pra você aprender, porque filha minha tem que aprender a cozinhar, costurar e bordar, porque se quiser se formar vai se formar, mas se não quiser tem uma profissão que é a profissão que é do artesanato e artesanato, minha filha, é cultura, viu” e foi aí que eu despertei pra vida, você tá entendendo? e desembarquei nessa de fuxico que eu, modéstia parte, tenho trabalhos maravilhosos e repassei pra todas as minhas colegas até hoje.
Dizem que, não sei se foi Angolano, não sei o nome do país agora, não sei, eu sei mais a “história da baronesa”: Sei que tem uma senhora que toda vez que ela arrumava a casa, segundo eu soube, não sei se isso é verdade ou não, ela jogava aqueles tecidos lá e um belo dia, aí tava um monte de tecido e faltou toalha de mesa, faltou alguma coisa assim dentro de casa, ela olhou assim pros tecidos e disse: “sabe de uma coisa, eu vou costurar esses tecidos” e ela começou, e no lugar de ela cortar quadrados ela começou a fazer rodas [círculos], quando ela foi pregar, lógico que as rodas não combinavam uma com a outra né, se desencontraram, foi a história que eu soube, ela começou a franzir e puxar, franzir e puxar, puxava, entrava no meio, fazia outra, e… com isso ela fez um quadrado que serviu pra mesa, foi essa história que eu soube, agora se ela é verídica ou não…
Eu sei que, verídica ou não, valeu a pena, porque hoje eu sou uma boa fuxiqueira e faço trabalhos maravilhosos.
Por exemplo, eu tenho um grupo de treze mulheres que trabalham com a gente, por exemplo, eu tenho que fazer uma colcha até julho do ano que vem, essa colcha ela vai levar 4.860 fuxicos, 4.860 botões de crochê, então essa colcha eu cobrei R$3.000 e o boliviano disse “quantas a senhora fizer, eu lhe compro, porque o seu trabalho é maravilhoso”, então isso engrandece não só a mim mas a nossa associação e o grupo de mulheres, não é verdade?
o fuxico é criação, o fuxico é arte, é cultura
Hoje eu moro eu e minha irmã. Eu sou artesã, mas ela não é não, ela só me ajuda, certo?
Sim, outra coisa, tudo que eu faço eu uso. Porquê eu uso? porque eu sou a garota de propaganda do meu trabalho, não é verdade?
Outra coisa, o fuxico não é só o fuxico, o fuxico é criação, o fuxico é arte, é cultura, a gente tem que criar em cima do nosso território, não é verdade? se em Pernambuco a gente respira cultura por quê não usar o fuxico como costura?
por obrigação de dia sim, dia não, fazer cem fuxicos
Normalmente eu acordo cinco horas da manhã, de cinco às sete eu tenho por obrigação de dia sim, dia não, fazer cem fuxicos. Se hoje eu faço cem fuxicos, amanhã eu não faço, eu faço no outro dia. Então hoje, por exemplo, eu acordei eu tinha que fazer uns colares pra entregar que eu já entreguei, deixei até dois pra vocês verem. Cada colar leva quarenta fuxicos [mostra um durante a conversa].
Eu acordei, tomei meu café, sento na mesa que eu saio pra vir pra loja de oito e meia, tomo meu café na mesa ali mesmo eu fico. Já tô com meus fuxicos cortados e eu me sento pra fazer eu digo “bem, eu tenho que fazer um colar que tem 26 fuxicos, então eu tenho que fazer 52 fuxicos, olho pro relógio e marco lá”, eu tenho que me levantar da mesa de sete e meia, então sete e meia, vinte pras oito, não importa, eu já tenho que tá com os 52 fuxicos prontos. É porque eu já tenho prática.
Eu terminei os 52 fuxicos, aí troco de roupa, boto o fuxico na bolsa e venho praqui [loja da AMPO], chego aqui eu concluo meus colares. Então eu faço dois colares, certo? Já vou fazendo e pregando a miçanga. Chego aqui eu monto os fuxicos. Esse colar ele custa no barato como diz a história, porque se for cobrar mesmo o custo do trabalho… ele custa o quê? R$12,00 entendesse?
Gestão Financeira
Então quando eu fiz Gestão Financeira foi que eu entendi que você tem que ter preço justo, correto? qualidade de produto e trabalhar dentro de utilitário, ou seja dentro da cultura local, porque o turista que vem de fora ele não vai comprar nada que não seja da cultura. Eu vejo aqui [na loja da AMPO], o turista chega, se não tiver uma pecinha “Recife” “Pernambuco” “Olinda”, ele não leva, porque ele quer se identificar lá fora que comprou em Pernambuco, é ou não é? E financeiramente, trabalhar com dinheiro? eu sou boa, viu? (ri)
Ele tinha sabedoria
Meu pai era pedreiro, meu pai ele foi ajudante de pedreiro, sendo que meu pai só sabia as três operações e assinava o nome dele. Então ele nunca quis que os filhos dele seguisse o caminho dele. Cada um teve o direito de escolher sua profissão, você tá entendendo? Ele foi pedreiro, foi mestre de obra, um grande mestre de obra e aprendeu isso no dia a dia.
A loja da AMPO
Meu amor, esse espaço [AMPO] aqui aconteceu o seguinte: nós estávamos no período muito crítico que veio a pandemia. Com a pandemia a gente estava com trinta e poucas mulheres, então entra aquele desespero né? [muitas disseram pra mim] não vou continuar, não vou continuar e eu “o que eu posso fazer?” não é verdade? [eu disse] se vocês quiserem sair, vocês saem porque a casa, eu vou pagar, não desistir da casa.
A casa [da Sede], era uma casa simples, que a gente tinha uma mini loja e lugar para botar a Feira o que que aconteceu? foram [embora] e de repente eu me vi só.
[Nessa sede que era] na Rua do Sol é pouca gente que não entra. E, em 10 de agosto, em plena pandemia eu aluguei essa loja [sede atual da AMPO]. Aí eu pensei o seguinte “nós não podemos ter medo, nós temos que ter fé acreditar no nosso trabalho” não é verdade? “e acreditar que Deus está lá em cima rezando por vocês” e eu aluguei a loja dia 10 de agosto de 2020. Eu tinha 500 [da outra loja] , passei a pagar aqui [na sede da AMPO] ele fez 600 eu passei a pagar 1.100.
A gente, a AMPO, ela nunca teve ajuda financeira de ninguém. Agora eu já participei de vários projetos, já fui pra o Rio Grande do Sul, pra Belo Horizonte, pra Brasília em conferências de economia solidária. As colegas pagam 50,00 para estar aqui nessa loja. Elas tem prioridade na Feira, como elas estão na loja na Feira elas pagam 20,00 por pessoa.
Uma infinidade de coisas
Aqui nós temos colegas que fazem crochê de qualidade, customização, reciclados de boa qualidade, temos colegas que trabalham com gastronomia, que trabalham com comidas regionais, ou seja o manuê, o manguzá, bolo de mandioca, bolo de macaxeira que a gente vende na Feira e isso é muito importante. Temos pessoas que fazem aquelas bonecas de pano de antigamente, que fazem bijouterias, pessoas que fazem cerâmicas. Uma infinidade de coisas. A faixa etária é misturado, temos pessoas aposentadas, tem as filhas, têm dos quarenta aos oitenta. Todas mulheres trabalhadoras, porque tem a produção pra fazer. Ninguém tem Alzheimer, por quê? tem que ta fuxicando, tem que tá fazendo, porque mente parada é um desastre. Por isso que eu só assim (ri).
acho isso muito importante
Hoje a gente tá sentindo que as pessoas estão observando mais a AMPO, como empreendimento de produtos de qualidade. O turista de fora valoriza muito nosso trabalho, ele valoriza, ele não pede desconto, apesar que nós temos o preço justo, ele encomenda. A gente vai pra Fenearte e vende muito bem. Eu fui pra Feira de Garanhuns, o FIG [Festival de Inverno de Garanhuns] levei produtos de quatorze pessoas. Trabalhei de dez da manhã às dez da noite durante dez dias, mas voltei feliz e contente porque vendi produto de todo mundo. A colega da boneca ainda hoje recebe encomenda das bonecas, então eu acho isso muito importante.
Temos peças no Centro de Artesanato [de Pernambuco], lá vendem, mas eles tem que tirar os percentuais deles.
Tenho orgulho do meu trabalho.
Pra mim técnica de trabalho você tem que ver o que ficou bom, o que ficou ruim e corrigir, né verdade? Se você não acreditar no seu trabalho e no que você faz você nem tente vender porque não vai dar certo. Agora se você acreditar meta a cara e vá a luta que você vai ser uma vencedora. Então eu me sinto hoje, aos setenta e cinco anos, contente e satisfeita com essa nossa Associação. Eu espero que ela perdure mais dez anos, que as colegas de trabalho sejam.. eu digo a elas “eu nasci positiva” minha mãe dizia que eu nasci decidida, que eu era uma criança que nasci decidida. Hoje eu entendo porque ela dizia isso, porque eu queria acertar.
Hoje em dia eu sou uma turista
Hoje em dia eu sou uma turista, eu conheço dezessete estados.
Passei treze anos da minha vida indo pra São Paulo, Vitória, no Espirito Santos, pra vender [bordados, rendas] de ônibus. Só que eu queria construir alguma coisa. Meu pai dizia o seguinte “deveres cumpridos, direitos adquiridos” e “o tempo espera pelo tempo pelo mal e pelo bem, tem poderes absolutos só dá razão a quem tem, veja se pode levar e não espere por ninguém, agora se poder ajudar, ajude também”. então isso foi uma lição que eu aprendi que eu levo pro resto da minha vida. Então se a gente quiser alguma coisa a gente tem que se construir, acreditar e dividir.
A AMPO pra mim é uma filha que eu não tive, é uma planta
A AMPO pra mim é uma filha que eu não tive, é uma planta. Tá vendo aquela plantinha ali [mostra uma planta], quando eu entrei nessa loja ela era uma folha a zameuca. Aí eu disse assim pra ela [pra planta] eu vou crescer igual a você. Veja que tamanho ela tá [a planta estava grande].
Estar na AMPO é um presente de Deus. É uma planta que eu plantei que ela cresceu, deu bons frutos, distribuiu aqui a muita gente que seguiu seus caminhos e continua dando frutos menores que estão crescendo também. E tudo na vida tem seu começo, meio e fim. E um líder ele só é líder quando ele deixa alguém melhor do que ele no lugar dele.
Essa é a Lourdes
Ser mulher pra gente é amar e ser amada, viver bem. Ter um companheiro bom, não se adaptar as más qualidades de fulano. Pode ser companheiro, pai, a gente não pode se adaptar a coisas ruins, ou a gente dá o basta… Por que as mulheres morrem por aí? porque elas admitem [o homem] dá uma tapa, adianta? Ser mulher você tem que ser forte, tem que ter fé, você tem que amar, sorrir. Você não pode fazer discriminação de nada, porque o mundo moderno faz com o que a gente aceite tudo que vem pela frente. Se você não gosta, fica calada. Ser mulher forte, cair e se levantar, ter independência. Pra vencer na vida a gente tem que ser forte, acreditar no Deus que rege a humanidade, se ele rege a humanidade porque não rege nosso ser? a gente que desvia.
Essa é a Lourdes chata (ri), feliz e contente.