Luciana Queiroga, 55 anos

Luciana Queiroga

Chegamos cedo ao apartamento de Luciana Queiroga, localizado em Boa Viagem. O ambiente, amplo e acolhedor, foi decorado com uma mistura de peças vintages e design contemporâneo, criando uma atmosfera única e confortável.
Luciana nos guiou pela casa, apresentando suas recentes criações: peças de parede feitas a partir dos refugos da produção de yukatas e vestidos. Ela compartilhou suas memórias de uma Boa Viagem modernista e tranquila. Falou de sua infância e da relação com seus pais, José Arruda Queiroga e Telma Della Santa. Ao longo da conversa, também falou sobre sua adolescência e trajetória profissional, relembrando momentos que marcaram seu percurso até aqui.
Lu relatou sua atração pelo belo – que chamou de uma característica típica de sua “personalidade libriana” – e sua conexão com o Shibori, uma técnica que ela descobriu após se aposentar e adotou como forma de expressão. A conversa seguiu para um tema mais íntimo: os desafios e transformações da menopausa, e as diferentes camadas que compõem os ciclos da vida.
Ao final, o encontro com Luciana foi, sobretudo, uma lição sobre o valor do presente, da expressão em cada fase da vida e do significado profundo dos encontros que o fazer manual proporciona – especialmente ao nos conectarmos com nós mesmas.

(conversa realizada em junho de 2022)

Narrativa

Mamãe foi miss aquela época

Meu pai [José] era paraibano de Pombal. Ele era filho de agricultor na Paraíba. Veio [pra Recife] pra estudar medicina. Na época era dentro do Hospital Oswaldo Cruz a residência, e a partir desse curso que ele fez lá ele prestou um concurso para Aeronáutica como médico e entrou e era oficial, tal. E mamãe [Telma], foi miss uma época. E nesses encontros sociais, porque na época tinham muitas festas militares, os navios da marinha quando chegavam aqui faziam festas e era o evento da sociedade e como mamãe era misse tinha que tá nos eventos, tinha que tá fazendo parte e aí eles se conheceram, eu acredito que num desses eventos, e foram apresentados, começaram a namorar e casaram. Eu tenho uma irmã mais velha, Andreia.

Essa parte de trás de Boa Viagem era toda mangue

Minha infância foi toda aqui em Boa Viagem. Eu fui criada em Setúbal exatamente, porque papai era da aeronáutica, e do Hospital da Aeronáutica que era aqui em Piedade, então papai sempre trabalhou nesse hospital e no Sancho [Hospital que na época era referência em Tuberculose] porque ele era especialista em tuberculose. Ele era tisiologista, e trabalhava nesses dois serviços, Sancho e Aeronáutica, então eles compraram um terreno aqui em Boa Viagem. Eles moraram muitos anos nas casas da aeronáutica e aí num certo período eles compraram um terreno e construíram uma casa, que era na época que isso [em Boa Viagem] aqui era tudo mangue. Essa parte de trás de Boa Viagem era toda mangue, aterrada. E, construíram nesse terreno que alagava… eu me lembro a minha infância quando o canal, quando chovia muito alagava tudo, e era um descampado, tinha uma ou outra casinha.

Foi uma infância de rua, de bicicleta na rua e de praia, muito de praia Boa Viagem realmente é a minha história vivida

Meu vizinho era Roger [de Renor] porque o pai de Roger era também coronel da aeronáutica, então esse pessoal da aeronáutica ocupava muito essa área, e os pais da gente se conheciam, a mãe de Roger era amiga de mamãe, o coronel amigo de papai. Mas foi bem no início de Boa Viagem. Minha infância inteira foi por aqui. Eu sou daquela adolescente que vivia na praia tomando sol com Coca-Cola, com urucum, você não usava nenhum protetor solar na época, a gente ia pra praia de camiseta pra ficar pegando jacaré, então foi uma infância de rua, de bicicleta na rua e de praia, muito de praia.

Então Boa Viagem realmente é a minha história vivida.Por isso, até eu tenho uma certa resistência de sair daqui, já morei na Zona Norte quando me casei, mas tua vida inteira foi por aqui… Eu estudei aqui, meu colégio era aqui, então eu me reconheço em cada cantinho. Fico perdida quando eu tô fora de Boa Viagem. Mas é uma Boa Viagem antiga, não é essa Boa Viagem de hoje em dia, que eu acho que essa urbanização meio que acabou com a graça que tinha aqui na região.

as histórias todas vão acabando

E ser destruído de certa forma, é dolorido. Porque as histórias todas vão acabando, os prédios vão sendo derrubados. Você vê o Caiçara que derrubaram, todos os predinhos, Hotel Boa Viagem, que era uma coisa emblemática, derrubaram.

Esses dias eu tava assim “Graças a Deus não derrubaram os salva-vidas!”, que são aqueles salva – vidas art déco que a gente tem e felizmente não derrubaram…
Então é uma Boa Viagem anos 1970 era muito bacana, mas as coisas mudam, não tem jeito.

eu sou a matrícula número 3 do colégio Motivo

Eu estudei no Santa Maria minha vida inteira, aí no último ano houve uma greve dos professores do Santa Maria e na época a diretora demitiu todos. E aí os professores revoltados fundaram o Motivo, o atual colégio Motivo. E os alunos que apoiaram eles foram todos pro Colégio Motivo, então eu sou a matrícula número 3 do colégio Motivo. Eram os melhores professores, os que resolveram sair, claro, eram os questionavam, e aí foi todo mundo pro Colégio Motivo e o meu último ano foi no Motivo e prestei vestibular.

enfermagem era uma coisa mais humanizada

Fiz faculdade na FENSG (Faculdade de Enfermagem, Universidade de Pernambuco),para Enfermagem, meu pai era médico, eu não queria medicina, eu achava medicina técnica demais e achava que Enfermagem era uma coisa mais humanizada. Se bem que painho era um médico muito humanizado, demais, porque trabalhava com tuberculoso, mas de um modo geral eu via a medicina uma coisa muito… você não perdurava com aquele paciente, digamos aprofundado naquele paciente, de você tá lá no leito, conversando, tinha a questão do tratamento, do cuidar que é uma coisa que eu acredito que eu sempre tive independente da profissão, sempre gostei de cuidar de bicho, de gente, de amigo, eu tenho prazer nisso.

São Paulo

Assim que me formei fui embora pra São Paulo pra trabalhar lá e estudar lá, fazer uma pós lá, e fiz uma pós em Administração Hospitalar e fiquei morando lá sete anos como enfermeira, trabalhei em vários serviços: bloco cirúrgico, em saúde pública que era o que eu gostava mesmo que você trabalha mais exatamente: educação. Então tinha um trabalho muito direcionado para essa comunidade, vacinação, então, eu gostava dessa área.

fui chamada pra trabalhar na Johnson

Depois de sete anos voltei de novo pra Recife. Quando eu voltei, trabalhei um ano aqui no Memorial São José no Bloco Cirúrgico como enfermeira, e fui chamada pra trabalhar na Johnson, na época que eu trabalhava como enfermeira. Um dos representantes que iam lá visitar, mostrar produto pra cirurgião, achou que eu tinha a manha de vender produto, e me chamou pra entrevista, e entrei e passei vinte e um anos trabalhando como vendedora de material médico. Tinha tanto a parte de venda, como a parte de treinamento e prática do produto, então, precisava ser enfermeira pra trabalhar e aí desenvolvi esse trabalho todo de tá junto dos médicos e tal e fazer a venda.

E foi uma visão bem globalizada de uma atividade, tanto eu saber vender o que eu demonstrava ser legal. Isso, eu acho que hoje em dia me ajuda em qualquer atividade que eu faça, sabe? porque você aprende inclusive a se vender, uma coisa que a gente tem que saber, saber se mostrar pras pessoas, se vender no bom sentido, de dizer “não”, eu tenho que mostrar o que eu tenho de legal pro mundo assim.

eu sou uma grande observadora de formas

Existe uma Recife, uma cidade que a gente é privilegiado em termos de arquitetura, né? Eu adoro arquitetura, na realidade eu adoro um bocado de coisa, eu tenho uma amiga minha que fala que eu tenho “uma paixão pelo que é belo”. É uma história das formas, eu sou uma grande observadora de formas e aí, sempre me atraiu muito tanto essa parte de arquitetura, como de arte. Meus pais gostavam de música, de cinema, minha mãe principalmente, minha mãe por ser Miss ela tinha essa coisa do cuidado com ela, da roupa, da beleza, tinha um cuidado extremo.

E, mentalmente falando também, ela lia pra burro, tínhamos uma biblioteca gigantesca, então ela era uma pessoa que procurava esses conhecimentos. Ela era professora também de Inglês e Português, então ela tinha um interesse em coisas que terminou despertando na gente também.

curso de modelo e manequim

Eu também tive a oportunidade na adolescência de trabalhar com moda, por uma questão de crise existencial adolescente, eu fui parar num curso de modelo e manequim. Porque eu me achava horrorosa, feia ao extremo, porque o colégio fez isso, né? as pessoas do colégio. Eu nunca fui uma pessoa esteticamente muito comum, um rosto muito comprido, magra, alta, um tipo físico diferente das outras crianças do colégio, era todo mundo menorzinha do que eu, eu era o “varapau”, eu usava [aparelho] extra-oral, aquele aparelho que era um estribo de cavalo, jogava voleibol. Era uma figura estranha.

"gente, encontrei minha espécie!"

Quando eu fiz uns quatorze/ quinze anos uma amiga minha arquiteta, Renata, ela fazia balé clássico numa escola de manequim, modelo e ballet que chamava “Arte e Movimento” aqui em Recife. Aí ela disse, já percebendo, Renata sempre foi muito sensível, muito carinhosa comigo, ela já percebendo que eu tava indo nesse caminho de me achar feia adolescente, “Lulu, tu não quer fazer um curso de modelo não? tu é tão altona, vamos, mulher”. Eu fui me sentindo a mais feia, a mais horrorosa, quando cheguei lá todo mundo igual a mim, todas as meninas: altas, magras, esquisitas né? (ri) Eu falei “gente, encontrei minha espécie!” aqui porque você se reconhece nas pessoas.

Aí fiz o curso e foi uma guinada na minha vida porque eu comecei a me entender como essa adolescente magra mesmo, esquisita mas que tinha sua beleza, tinha seu jeito.
E, comecei a trabalhar isso em mim, porque não é fácil, quando você vive isso na tua formação, e uma mãe miss, e perfeita, mamãe, puta que pariu, tu olhava assim pra mulher e dizia assim “minha gente, pelo amor de Deus, não tem nada [nenhum defeito], que mulher é essa? vou procurar aqui o defeitinho, não tinha” então, era muito difícil, você ter isso, sua figura feminina é irretocável, e graças a Deus, esse curso, acho que Walter Monticelli, que era o dono e conversava muito com a gente sobre isso, aí eu acho que eu pude desenvolver esse lado.

comecei a ter uma visão diferente de moda também

E acho que a partir disso, desse mundo de moda, eu comecei a ter uma visão diferente de moda também. Até porque era uma forma de eu me expressar mesmo. De eu poder usar uma roupa que me sentisse bem comigo mesmo, então a moda pra mim sempre teve uma conotação muito mais forte do que você só vestir a roupa assim. De me entender como corpo, como pessoa assim, então moda tem um significado muito forte, assim. Eu acho que a partir disso eu comecei a pesquisar ver os shows de moda e me interessava. É uma atitude, é uma luta, é tanta coisa envolvida né?

Então eu misturei essas duas áreas da minha vida a vida inteira, que era a enfermagem, o hospital, o cuidar, todo esse trabalho que é muito bacana também, mas ao mesmo tempo, em paralelo eu tinha esse lado hedonista, né? que eu queria essa beleza, essa atitude, esse lado criativo junto de mim. Então essas influências todas, tanto do meu entorno, como da minha casa foram muito fortes mesmo.

a gente casou

Tem de tudo aqui [obras de arte na casa], acho que muito a influência de Carlois [ex-marido]. A gente morou junto cinco anos, eu acho que eu realmente comecei a conhecer os artistas, principalmente aqui de Recife através dele, que são todos amigos dele. Quando eu voltei de São Paulo, eu tava com vinte cinco, vinte seis, eu acredito, em torno disso, aí quando eu voltei a gente casou, foi morar junto, e aí eu comecei a acompanhar essa coisa da criação dele. Carlos Amorim, ele é daqui de Recife, hoje em dia ele tá em São Paulo, mas tanto faz pintura, ele é gravurista ele faz de um tudo, mas ele se expressa mais através de pintura mesmo e desenho, hoje em dia ele tá desenhando muito.

Essa rede que Recife proporciona

Eu tinha obviamente as referências e conhecia as pessoas a distância, mas aí quando comecei a interagir com ele eu virei amiga de Joelson, então, tudo que Joelson faz eu tenho alguma coisa, ele faz “Luciana, você é minha maior galeria”, porque eu saio pegando as coisas de Joelson. Eu gosto muito de cerâmica, então…
Ele [Joelson], Maurício Silva, Cristina Machado, eu não tenho uma obra de Cristina mas sou louca por Cristina, tanta gente. Zé Paulo, toda essa galera eu fui conhecendo através de Carlois. O pessoal de design gráfico, Joana Lira, Gilvanzinho fotógrafo, então esse mundo… Chico Baccaro que é fotógrafo, eu sou amiga de Chico, aí você vai conhecendo outras pessoas. Essa rede que Recife proporciona e a gente vai interagindo, eu acho que esse mundo de arte assim eu fui bem apresentada. Por isso que eu gosto de ter ao meu redor. E a gente não consegue separar também o artista da obra, então como eu sou apaixonada pelos artistas, as pessoas, aí eu quero ter a obra juntinho de mim também.

menopausa

Eu não pude ter filho, eu tive a vida inteira endometriose. Entrei na menopausa com quarenta e oito anos, vou fazer cinquenta e cinco, e ainda tô vivendo na menopausa, então assim, tudo é muito intenso nessa área. Quando você entra na menopausa você entra no período que é muito seu, sabe? Você não pensa mais nessa coisa do outro, do filho, do marido, do casamento, você não pensa mais…

temos lastros, marcas na vida

Nós [mulheres] temos lastros, marcas na vida da gente, a puberdade, adolescência, primeira menstruação que é muito traumatizante pra muitas mulheres, de você menstruar no meio da rua, melar uma roupa, é horrível. Isso, quando você é educado numa sociedade que não acha isso normal. Aí depois a coisa da maternidade, de ser mãe é uma coisa traumatizante, não ser mãe também é extremamente traumatizante, porque as pessoas exigem isso de você. Você passa a vida com as pessoas perguntando: “você não vai ter um filho?”, e quando você tá casada é pior ainda, você tá solteira dizem assim “ô, bichinha!”. Aí “a idade biológica”, eu escutei várias vezes “se tu não for ter, não vai ter não, visse?, tais vendo que tá…” de ginecologistas, principalmente na área que eu trabalhava , né? na área médica que é extremamente machista, os caras são muito machistas.

mais forte que todas essas fases

Quando você entra na menopausa é tão forte quanto, eu acho que até mais forte que todas essas fases, pra mim tá sendo uma fase muito absurda. Porque você tem tudo, você tem tudo, você se sente envelhecer, o que é difícil pra qualquer mulher, porque seu corpo vai mostrando pra você que ele… então você tem que elaborar isso muito bem.

A pele não é mais a mesma, eu realmente agora eu não vou ter filho mesmo, não tem como, só se for adotar alguém. É, você tem questões, você deprime, porque a falta do hormônio faz você deprimir, não é uma questão de escolha porque você quimicamente fica mal. Os calores são insuportáveis, eu acordava de madrugada a cama molhada, você ter que tomar um banho e não é pouco tempo, é muito tempo, então é uma coisa agressiva. Eu não pude tomar hormônio, porque eu tive micro calcificação de mama, eu comecei e parei.

Mas eu acho que quando você tem os acompanhamentos, eu realmente tenho a minha gineco, faço minha terapiazinha, né? porque tem que fazer, é que dá essa acamaldazinha.

saí da empresa

Entrei nesse período com quarenta oito [anos] que eu entrei na menopausa, aí com cinquenta [anos] e aí onde entra o shibori na minha vida. Aos cinquenta eu saí da empresa [Jonhson], né? que eu trabalhava há vinte e um anos. Aí quando eu saí eu “cara, será que eu quero passar mais trinta, vinte, fazendo isso? rapaz, quero não”. Aí eu fiquei “não, vou passar um período sabático assim, vou dá um tempo pra ver o que vai acontecer”. Aí, me chamaram pra outra empresa pra trabalhar com distribuidor, com outro tipo de coisa e eu negando… E eu “gente, o que eu vou fazer que eu só sei fazer isso?”, eu disse “hospital eu não entro mais porque não dá mais pra ser enfermeira eu perdi a mão de ser enfermeira” que tem que ter destreza.

"Trama Afetiva"

Acordava todo dia no mesmo horário que eu tava acostumada a acordar no mesmo horário para trabalhar e ficava aqui na rede aí eu fazia “meu Deus do céu, o que eu vou fazer? eu tenho que arrumar o que fazer e tal”. Ao mesmo tempo, eu tenho um amigo que é meu guru assim de tudo, meu parceiro nesse novo momento da minha vida, nessa nova atividade que eu tenho… já era como amigo, e hoje em dia eu não vivo sem ele que é Jackson Araújo. Ele era jornalista de moda, ele não se diz mais jornalista de moda, hoje dia ele se entitula e ele é comunicólogo. Ele faz um trabalho em várias áreas, não só de moda, em tudo e tem um projeto que chama” Trama Afetiva” que é aquele projeto de linkar talentos, ele traz as pessoas pra um encontro, aonde ele fica fomentando ideias criativas de várias áreas. Então tanto entra artesão, como entra o pessoal de comunicação, como era o pessoal de tecnologia… ele sai juntando, ele tem esse poder.

um curso de shibori

Aí, Jackson ele vira pra mim e diz assim “Lu, tu não ta fazendo nada mesmo, e eu sei que tu gosta, faz o seguinte, vai ter um curso aqui em São Paulo da Patrícia, que ela tinha feito um “Trama Afetiva” com ele, a Patrícia Sayuri, e ela vai dar um curso de shibori”, aí eu “que bixiga é shibori, criatura?” ele “vem Luciana, eu não sei te explicar não, tu vem pra cá que tu faz e eu já sei que tu vai gostar”. Aí eu “tá bom, tais dizendo, eu vou”. Aí me inscrevi, li um pouco antes, claro, não ia as cegas, mas aí me inscrevi, achei interessante a proposta e fui fazer o curso com Patrícia que era só de Itajime.

Sabe quando você tem uma represa dentro de você?

Eu nunca tinha pego no tecido pra fazer nada, nem costura, eu perdidinha. Eu tinha um desejo criativo muito grande, tanto que eu ja tinha tentado desenhar, eu tinha feito curso com Cavani Rosas… Sabe quando você tem uma represa dentro de você? que a minha vida inteira eu tentei fazer alguma coisa criativa, convivia com pessoas criativas, ter casado com pessoas criativa. E, Carlois [ex-marido] ficava “menina, solta esse braço, desenha qualquer coisa”, mas o desenho não era a linguagem ainda, sabe? Eu suava pra fazer alguma coisa… Porque eu tenho um “q” de perfeccionista que eu acho que é legal hoje nesse trabalho de tingimento e de shibori. Eu não tenho o controle e eu sou extremamente controladora, de personalidade…

“…o shibori são cicatrizes deixadas no tecido”

Aí eu fui fazer o curso da Patrícia e quando eu chego lá, a Patrícia é neta de japonês, e aí ela começou contando como ela tinha começado a fazer o shibori. Ela conheceu o shibori no Japão, numa das idas dela pra lá, se apaixonou e pediu ao avô pra fazer umas peças de madeira pra ela trabalhar com Itajime e assim ela começou a fazer o Shibori, e aí, na descrição dela de Shibori ela fez assim “eu entendi que o shibori ele dependia do meu estado de espírito, se eu tava triste eu imprimia isso no tecido, se eu tava feliz eu imprimia também de alguma forma, em cor, em forma, e pra mim o shibori são cicatrizes deixadas no tecido”. Ela falou isso, menina, eu comecei a chorar na hora, eu já tava fragilizada por ter perdido meu emprego, por não saber o que fazer, “n” questões e quando ela falou isso eu falei “ai, cara eu tô precisando” não é só a expressão, só a técnica, eu vou colocar o que eu sinto naquilo pra mim é uma linguagem mesmo.

Aí eu comecei a fazer com ela, eu amei o primeiro tecido, foi numa seda, já bota você pra trabalhar com seda pra você se raigar todinha, né? (ri). Aí o shibori lindo na hora, tal. Aí eu falei “cara, eu quero fazer isso”, aí sair de lá do curso, Jackson: “ta vendo, eu lhe disse que você ia gostar” e gostei mesmo.

comecei a experimentar

Voltei pra Recife e comprei alguns tecidos para experimentar e comecei a experimentar no Itajime, obviamente, aí depois eu vi que o negócio não parava no Itajime, bem, o Shibori tem mais de cem técnicas. Você se espalha no que você quiser. Aí eu comecei, fui comprando livro, graças a Deus na internet você tem “n” coisinhas que você consegue acompanhar, tal.. E fui experimentando e fui fazendo do meu jeito. O que vejo de hoje em dia do meu trabalho é exatamente isso: Eu tive o start técnico por uma artista plástica que já não é esse shibori tradicional, porque ela já imprimia de uma outra forma o shibori dela.

Eu pude ver que eu podia criar em cima dessa técnica, que não é a minha história, mas que eu posso transformar na minha história, é uma técnica japonesa e que eu posso trazer pro nordeste e virar um shibori Luciana, da Olívia Shibori, que é isso que a gente faz.

emoção e falta de controle

O que eu acho que mais me emocionou no início dos meus trabalhos, quando eu abri os meus trabalhos é a falta de controle. E, eu chorava nos primeiros tecidos, eu choro até hoje dependendo do resultado, mas os primeiros, primeiro eu não esperava que eu conseguisse fazer aquilo que é uma luta eterna, uma coisa que eu nunca tinha feito na vida, uma mulher de cinquenta anos de idade que nunca tinha feito aquilo e de repente eu resolvi… E aí quando sai eu falo “gente eu nunca pensei que eu seria capaz desse tipo de coisa”. Primeiro é essa emoção e segundo é a falta de controle.

transformar aquela peça numa nova peça a partir do seu erro

Quando dava errado, e aí eu olhava e dizia “gente eu não consigo controlar o pano, a tinta” na hora que eu abro a torneira tirando o excesso de corante aí mancha tudo, aí tu fala “não tô acreditando que manchou tudo, Jesus Cristo, o que eu vou fazer com isso” aí eu vou transformar aquela peça numa nova peça a partir do seu erro, né? e eu acho que são esses significados desses ofícios da gente que fazem com o que eles se tornem muito mais importantes do que realmente só o objeto. São essas descobertas pessoais que são impressas naquela peça. E Shibori pra mim é isso, não tem outro interesse no trabalho, assim. Tanto que muita gente pergunta se eu quero deixar a peça em loja, fornecer, eu falo “gente, não, porque eu preciso falar sobre aquela peça ou dos cuidados que a pessoa vai ter que ter com aquela peça”, porque se ela for lavar no Omo ou na máquina de lavar acabou o que eu fiz. Inclusive esse contato faz parte de todo esse processo, quem vai usar… queria eu que só quem usasse essa peça fossem meus amigos, porque assim é filho mesmo, você quer que as pessoas valorizem da mesma maneira que você valoriza.

Você fica se desafiando com seus limites corporais. São lutas pessoais que a gente imprime nesse trabalho também, e é isso arte é dor, é amor. São vários sentimentos.

Olívia era minha cadela

Surgiu a marca da minha cachorra, é tudo sentimentalismo, nessa história toda. Olívia era minha cadela, minha cadela-filha, passou dezesseis anos comigo, então assim era minha filha mesmo, era minha bebezinha e ela participou da minha vida durante tantos anos, eu e ela. É uma whippet [raça da cadela].

No ano que eu comecei o Shibori ela ainda tava viva, eu acho que ela morreu um ano depois. Imagina? A marca é a minha filhota, então… tem tudo de emocional na história assim.

é uma técnica milenar e chinesa

O shibori é uma palavra japonesa, na verdade se diz que ele não é oriundo do Japão e sim da China. O primeiro shibori foi encontrado historicamente foi em setecentos alguma coisa depois de Cristo. Então é uma técnica milenar e chinesa, inicialmente, então ela foi exportada da China para e no Japão eles começaram a fazer, aí você tem Período Edo, aqueles períodos lá da Dinastia japonesa e aí você tem “n” tipo de shiboris, há mais de cem tipos de shibori, e o que acontece, as pessoas confundem muito dizer que o tye dye é um shibori, ou um batike é um shibori, na verdade eles são shiboris, mas na verdade o shibori abrange todos esses tipos. O da índia é um tipo de shibori, o da Indonésia é um tipo de shibori…

A palavra em si, a palavra shiboru que é de onde surgiu o nome o shibori quer dizer um verbo que quer dizer amassar, dobrar espremer, em japonês, a palavra é japonesa.
E daí você pode fazer de todas as formas possíveis e imaginárias que prensem essa dobra, você pode torcer esse tecido num cilindro numa peça cilíndrica, você pode costurar essa peça, grapear essa peça, e no local onde a tinta não vai penetrar ela vai fazer esse desenho. O shibori é uma técnica que faz com o que essa imagem, que pode ser bidimensional como uma serigrafia normal, se torne tridimensional com essa técnica de dobradura. Então é um processo bem complexo, mas que você pode ter de várias formas.

“vai vender não?!”

Começou a gente me perguntar “vai vender não?!” aí eu ” acho que vou”. Aí eu comecei a fazer, criei o Instagram eu mesma comigo mesma, e foi começando a venda. E sempre assim, uma peça, outra, nunca várias, nunca P, M, G. Como eu que criei o Instagram, eu fotografava, eu fotografo ainda, eu sou a modelo, levo a peça pra costureira, trago, compro o tecido, faço tudo e foi assim… foi surgindo, as pessoas foram procurando. Tive essas pessoas que foram muito importantes pra mim: Jackson, pessoas que são propagadores da marca; Arlindo, que tem um programa de moda na SBT me procura, aí quer fazer uma live, ai vai lhe linkando com espaços que eu nem pensava em tá chegando. Não quero um milhão de seguidores, quero que me acompanhem de uma maneira legal.

joias de parede

A gente não prega tanto essa coisa de não utilizar o que não é necessário? eu não preciso comprar quinhentos metros de tecido. Graças a Deus, eu preciso comprar dez, vinte metros de tecidos pra fazer minhas peças. Eu compro o necessário, eu gasto o necessário, o que sobra eu ainda faço bolsa, almofadinha, agora eu tô fazendo joias de parede com retalhos. Aí a você fica inventando o que fazer com teu resíduo têxtil.

Achar o valor

Precificação: eu demorei muito tempo pra entender como precificar o meu trabalho, porque cada um tem uma forma diferente de precificação. Achar o valor da sua hora trabalhada. Qual valor de seu tempo desprendido pra aquilo? Será que eu só cobraria a hora de tingir ou a hora que eu fui comprar o tecido? Então assim durante esse período, nesses cinco anos que eu tô trabalhando com isso, de entender os custos que esses daí não tem como você não imprime nas peças e os valores do seu trabalho, da sua arte, então eu tento balizar esses custos .

Aqui em Recife eu não conheço quem faça Shibori

Aqui em Recife eu não conheço quem faça Shibori, acho que a única pessoa que faz Shibori que eu conheço é Lu [Azevedo, uma das pesquisadoras do projeto]. Tingimento artesanal tem umas pessoas, mas fazem pra uma coleção específica. Bete Paes, acho que Bete fez um trabalho de tingimento muito legal para a Jeep. Do pessoal da Roda, que o pessoal tá aproveitando o descarte têxtil dos carros e ela fez o tingimento natural de acessórios.

tingimento natural

A história do tingimento natural um dos grandes desafios é esse [a duração do tingimento na peça, a solidez], porque aí é que tá o cliente entender. O acordado não sai caro, o que você acorda com a pessoa [sobre cuidados com a peça] o que você conversa e tá lá escrito [ na etiqueta] é interessante. Eu mando por email, pro whatsapp da pessoal “olha, não esqueça, pelo amor de Deus o sabão que você vai usar” (ri) . Porque se não mancha tudo. Eu já tive cliente que manchou que disse “Luciana, manchou tudo, eu botei na máquina de lavar”.

Esses cursos todos

[Eu aprendi o tingimento] natural com Flávia Aranha, depois eu fiz impressão botânica com as meninas da Tintureiras.
Com Patrícia Sayuri foi o Itajime Shibori, em 2017, meu primeiro curso, aí acho que um ano e meio depois eu fui fazer o curso da Flávia Aranha de tingimento natural. Esses cursos todos eu fui em São Paulo pra fazer porque na época [em Recife] não tinha. Acho que um ano depois do da Flávia [Aranha], eu fui fazer com As Tintureiras, que elas são artistas de impressão botânica, claro que ela fazem de tingimento natural também, mas a arte maior delas é impressão botânica.

[Sobre o processo] Eu peso o tecido para os mordentes e os corantes naturais, eu peso pra saber de boto menos ou mais pra dar um tom mais intenso. Eu nunca faço menos que 50% [de corante natural] que eu sei que não vai dar certo. Agora corante industrializado vai no olho [a quantidade]. Aí não tá dando o tom, eu tiro a peça, boto um pouco mais de corante pra não manchar a peça. Porque se não, amiga…

Essa coisa do trabalho em casa eu sempre tive, porque eu trabalhava na Jonhson em casa, no escritório, a questão é que o tingimento ocupa muito espaço, não é como um escritório com computador, você tem panela… Você precisa de uma área funcional da casa, cozinha, área de serviço, um depósito.

Os materiais de tingimento natural a gente adapta pra sazonalidade da gente e pra o que a gente tem aqui. Dois corantes que eu compro fora é o pau-brasil, que eu compro da Flávia Aranha e às vezes das Tintureiras, que as meninas tem também. E, o Crajuru, que é uma planta, em Minas Gerais, são essas duas coisas que trago de fora, o resto eu compro aqui porque tem.

Urucum, que eu uso pouco por conta da solidez mesmo, a catuaba. Tecidos eu compro de São Paulo, tem uma loja que me fornece tecidos e de Londrina, que me fornece outros, essa loja de São Paulo ela trabalha com ecologicamente corretos, que é viscose ecológica, aí eles são certificados. Quando vou fazer essas coleções, como a “Floral”, aí eu vou no centro da cidade [centro do Recife], compro o tecido que eu quero.

o bordado tem tudo a ver com o shibori

Na verdade o bordado tem tudo a ver com o Shibori e quando eu vi o trabalho de Virginia [Fukuda], que foi Jackson também que me deu essa dica, e ela fazia o Sashiko. [Virgínia] Uma cearense japonesa,que faz o bordado japonês, que comunica super bem com a peça do trabalho, aí eu chamei Virginia pra fazer [bordados], pela origem dela, por ela se identificar com essa peça. Ela fica curtindo demais o trabalho do Shibori porque remete ao Japão, aos pais.

Serigrafia

Eu uso também serigrafia, às vezes, trabalho com serigrafia com algumas estampas. Porque eu acho que é um detalhe a mais na peça, quem faz as telas é Enoque, que eu acho ele o melhor, cara aqui de tela de serigrafia, e Henock me deu muitas dicas. também, que ele já trabalha a muito tempo com tingimento de tecido assim. E, por exemplo, a técnica contrária, que é o que você tira a tinta do tecido, que dá pra fazer o shibori inverso, você ao invés de tingir você descolore.

E, aí Enoque me deu essa dica da mistura para descolorir porque ele já tinha [feito]. Ele é professor de química ou física, ele é meio professor pardal, é muito legal trabalhar com ele.
Carlois já fez algumas imagens pra eu usar [na serigrafia], fez o peixe que eu usei numa coleção minha. Joelson já fez peça de cerâmica em joia pra eu usar no desfile da FENNEART, as joias que as meninas usaram era de Joelson, então tem algumas parcerias já.

peça que atende a vários corpos

Como eu não sou estilista, nunca fiz nada relacionado a moda, eu achei que era um pouco demais eu tá criando peças, aí o que que eu fiz: como as peças mais comuns são peças de design já mundial, que eu não tô tirando o design de ninguém, fazendo uma peça que é kimono, é um tradicional japonês, com algumas variações, que aí fui eu que fui fazendo, de ampliação do desenho do kimono, o oversize, o kimono grandão, tal fui eu que fui pedindo pra aumentar. Então eu uso peça que atende a vários corpos, e atende a todas as pessoas, homens, mulheres, meninos… quem quiser usar usa.Tanto que tem caras que gostam das Yukata que usa como peça de sair e isso que eu acho muito legal, porque você quebra esse padrão “ah, é roupa feminina” e por isso que eu gosto do oversize porque você atende o corpo masculino também.

Referências

De Shibori no Brasil a Tati Polo, eu amo o trabalho dela, até porque ela é arquiteta, né? então ela tem uma visão dos trabalhos dela, assim os que eu já vi, né? que eu nunca participei de nenhum curso com ela, mas alguma coisa, alguma pesquisa que eu fiz do shibori foi no início foi ela. De shibori no Brasil realmente eu não consigo lembrar de muita gente não, a própria Patrícia Sayuri parou um pouco de fazer, pelo menos eu nunca mais vi ela trabalhar com shibori, mas também tem ela. E fora do Brasil, Japão, que aí você tem todas essas referências que você vai consumindo o katazome. Katazome é um tipo de serigrafia japonesa também, que usa uma tela, tal, são pessoas que eu fico bebendo dessas fontes, dessas técnicas e de tingimento natural Flávia Aranha.

Eu tento trazer essa referência japonesa, mas como a gente comentou, mas eu por exemplo uso peças africanas que é um kaftan, kaftan é turca, então você vai passeando por várias culturas, na estética. Das peças que eu faço japonísticas mesmo são os kimonos, são as Yukatas e aquela bermuda grandona, no restante eu vou passeando por outras culturas também, essas modelagens, mas acho que aqui do Nordeste a gente consegue trazer renda, bordado, tantas coisas que você pode implantar nessas peças que você consegue misturar super bem, a gente é rico nisso, então a gente consegue trazer.

a recompensa

Por eu ter tido essa relação [identificação do cliente com a peça] que é quase com o carinho, é um beijo mesmo. Eu acho interessante que você cria uma relação meio maternal e a pessoa que sempre tá com você, e querer suas peças você vira meio mãe e ela mãe de você e vira um vínculo bem forte. Eu já tenho cliente hoje em dia que dizem assim “ah, faz o que tu quiser que eu sei que vai dar certo, tô nem pensando, faz que eu quero”, e que delícia você ter uma pessoa que confia plenamente no teu gosto, nas cores que você vai escolher, modelo, então eu acho que a recompensa é essa. Quando alguém recebe uma embalagem, que eu adoro fazer embalagem, quando recebe em casa e filma, diz ‘Luciana pelo amor de Deus, e esse cheiro?!”, a recompensa tá aí.

agora eu tenho direito de fazer o que eu quero

Eu pretendo continuar como estou, tá de um tamanho e de um jeito que eu gosto de fazer, se eu tivesse que mudar alguma coisa seria por necessidade, porque é muito confortável pra mim da forma que eu trabalho. Porque amiga, foram trinta anos de sangue tirado [na empresa] e aí eu tive como juntar um patrimônio. Então, eu tive que viver cinquenta anos para fazer assim, girar uma chave e dizer agora eu tenho direito de fazer o que eu quero e da forma que eu quero e é isso que eu não quero abrir mão.

Eu me sinto muito forte, eu me sinto muito dona de mim até aqui

É bem dificil [ser mulher], eu não sei se é força, eu não sei exatamente o que é, se você me perguntar exatamente qual é, se é força, poder, mas acho que a gente tem coisas, eu não sei se é porque a gente vive tantas questões e não estou desmerecendo os homens, pelo amor de Deus, eu acho que os homens também vivem questões completamente diferentes da nossa, são vivências diferentes. Mas eu acho que a mulher, ela na sociedade brasileira, talvez mundial, a gente tem que transpor alguns obstáculos que fazem a gente ser fortalecida ao longo da vida da gente.

Eu acho que é um privilégio ser mulher, em muitos sentidos e um desafio gigante. Então, eu tento conciliar as duas coisas da maneira mais leve possível. E eu acho que isso é nossa luta diária, não ficar pesado diante das dificuldades que a gente vive, a gente tenta ter a leveza para que a gente consiga ter a força, no final das contas. Eu me sinto muito forte, eu me sinto muito dona de mim até aqui. E você me pergunta se eu quero mudar alguma coisa, eu não quero mudar, porque eu consegui conquistar o que eu tenho até hoje o ser Luciana, ter rompido com tantas coisas criadas na minha cabeça e de fora pra dentro de mim.

consegui conquistar tudo que eu tenho, até eu mesma

Então, a gente vai elaborando ao longo de uma vida tanta coisa que quando você chega num ponto da sua vida… você trabalha tanto e chega num ponto em que você tá satisfeita com você, que é assim que eu me sinto hoje em dia. Eu consegui realizar uma coisa que tava represada dentro de mim que é essa parte criativa e nos outros sentidos eu me sinto muito bem porque eu consegui conquistar tudo que eu tenho, até eu mesma.

O trabalho é o que tinha antes, hoje em dia eu acho que é um prazer, um ofício. É um ofício, desprende energia, desprende dor, desprende prazer, desprende um monte de coisa, mas eu não sinto, e talvez seja essa relação que eu tenha, mas eu não sinto a obrigatoriedade, sabe? Eu me sinto muito livre. Então trabalho pra mim tem um pouco de relação com obrigatoriedade, do pão, dinheiro, de fazer pra ter o retorno financeiro, hoje em dia eu tenho, mas de uma forma diferente.

Afeto ou sentir e verde

A cor preferida é verde. A palavra que é afeto, é como eu consigo traduzir tudo isso, porque o toque pra mim é importante, o espaço pra mim é importante, eu tenho tanta relação com o sentir, se sentir bem, acolhido, se sentir feliz, estar em relação com o que eu vejo, o prazer visual, o prazer tátil, não sei se afeto ou sentir, não consigo uma palavra única.