Mocinha, 69 anos

Mocinha

Maria da Luz de Lima, mais conhecida como Mocinha, desde os quatorze anos que faz tapete, como ela mesma disse: 55 anos de trabalho prestado na Tapeçaria Casa Caiada. Aprendeu os primeiros pontos com Lia, também trabalhadora da Tapeçaria. Depois que aprendeu o ponto, levou o tapete para casa. Mocinha é uma senhora tranquila, aposentada e que carrega nas mãos as histórias e saudades de fazer tapetes.

A conversa com Mocinha se deu na sede da Tapeçaria Casa Caiada, que fica no bairro da Vila da Fábrica, em Camaragibe. Lá, fomos recebidas por Patrícia, a administradora da tapeçaria, e, logo ao entrar, encontramos um balcão em que são recebidos e retirados os tapetes e as lãs pelas tapeceiras. Mas adiante, em uma sala ampla e espaçosa, encontramos alguns tapetes expostos e, também, diversos fios de lã coloridos e amarrados. A sede fica em frente à praça, perto também do Cine Teatro Bianor Mendonça Monteiro.
Mocinha passa as terças-feiras na sede da Tapeçaria, e foi lá que tivemos nossa conversa, na companhia de Patrícia, patroa de Mocinha, e Maria Helena, outra tapeceira. Mocinha não casou, mas adotou dois filhos; aprendeu rápido a fazer tapete e nos contou as suas preferências de trabalho, como desmanchar os pontos “malfeitos”, restaurar peças danificadas, e da sua agilidade com o desmanche. Tem um orgulho grande do que faz, conquistou casa com a feitura do tapete. Gosta muito de praia, mas também gosta de ir com a família para Águas Finas. É uma mulher simples e batalhadora, que tem no trabalho toda a dedicação e prazer.

(conversa realizada em maio de 2022)

Narrativa

EU FUI MUITO VEXADA

Foi quando eu nasci, a moça que me pegou que me deu [o apelido de Mocinha]. Nasci em casa, não deu tempo da minha mãe levar eu pra maternidade não, que eu fui muito vexada. Que antigamente, né?, as pessoas nasciam mais em casa do que mesmo na maternidade. Foi na Avenida Caxangá [que nasceu], na Várzea.

EU VOU LHE LEVAR PRA VOCÊ FAZER TAPETE

Tinha uma menina que trabalhava aqui [na Tapetes Casa Caiada], aí ela disse: “eu vou lhe levar pra você fazer tapete”, aí Mainha disse: “vai nada, que ela não vai dar certo de jeito nenhum”. Eu ia fazer quinze anos, aí ela me trouxe. Aí, eu comecei a trabalhar e continuei, entrei eu ia fazer quinze anos e agora já vou fazer setenta. Cinquenta e cinco anos de serviço prestado.

Aprendi com Lia, uma senhora que já faleceu. Ela me ensinou, mas não me ensinou muitos dias não, só me ensinou uma vez. No outro dia eu já sabia fazer o ponto, não tão bom quanto ela, mas logo logo eu aprendi, não demorei não. Ela já faleceu, também era funcionária. Ela começou me ensinando aquelas carreirinhas lisas, porque era de início pra gente saber o ponto, aí era nessa carreirinha lisa. Aí depois que comecei a desenhar aos poucos.

EM CASA COM UMA TURMA

Depois comecei a fazer tapete. Pegava tapete pra fazer em casa com uma turma, isso depois que eu já sabia. Era um tapete grande, que tinham várias pessoas trabalhando, aí eu fiquei logo fazendo no tapete. Não aprendi em tela não.

A gente começou onde era o Hiper, que na frente era uma casa que tinha gados e atrás era uma cocheira que a gente trabalhava, na Iputinga. As meninas de lá todas elas já faleceram, só tem mesmo as daqui [Tapetes Casa Caiada, na Vila da Fábrica], Leia, Helena.

Eu morava lá, na Rua Timbaúba, lá na Iputinga, perto de um clube “Santo Antonio”, lá na Caxangá tinha esse clube. Depois eu me mudei e morei aqui por trás do Guarani [Clube] durante muitos anos. Agora eu moro em São Lourenço.

ÀS VEZES DÁ UMA SAUDADE

De vez em quando eu faço, mas não faço muito não, viu? Eu pego assim pras meninas. Às vezes dá uma saudade, porque dá saudade de aí eu faço, eu vou lá pra casa dela e fico fazendo com ela, mas em casa mesmo eu não tenho nenhum.

Quando eu venho pra cá [pra Tapetes Casa Caiada] é um dia maravilhoso, amo meu trabalho. [Venho] só nas terças.

SEMPRE FOI COM TAPETE

Com vinte e sete anos de serviço e cinquenta e cinco anos de idade [me aposentei], que agora a pessoa morre e não se aposenta mais. Ainda trabalhei dois anos, porque chegou o trabalho, mas eu não tinha idade, só tinha cinquenta e três anos, aí me aposentei com dois anos de serviço. Mas só tive esse serviço mesmo. Sempre foi com tapete. Eu pegava e fazia tapete com uma turma. Eu já fiz tapete de 25 metros, era eu e mais três meninas em casa.

SEI FAZER DE TUDO DE TAPETE

Sei fazer tudo de tapete, tudo que você imaginar de tapeçaria eu sei fazer. O que eu mais gosto é desmanchar, emendar. Gosto muito de desmanchar, mas eu trabalho, trabalho porque trabalho mais devagar, mas desmanchar, eu trabalho rápido. Desmancho o que os outros fazem, o meu eu faço certo.

Ensinei a minha irmã e as meninas que trabalhavam comigo, mas elas já faleceram, mas elas aprenderam comigo e ficou comigo, a gente fez um tapete de vinte e quatro metros em menos de noventa dias. Uma turma de dia e outra de noite.

EU AMO MEU TRABALHO

Eu amo meu trabalho, tudo que eu tenho eu agradeço primeiramente a Deus e segundo ao meu trabalho. Morava em casa de aluguel, e hoje em dia tenho a minha casa própria, graças a Deus. E tudo que eu tenho é aquilo que Deus permite, né?, mas que foi tudo através de tapete.

Quando eu vejo que tá acabando um tapete eu peço a Deus pra vim outro, porque eu gosto mesmo do meu trabalho.

VIVO NA MINHA CASA

Pra mim é normal, vivo na minha casa, não gosto de sair muito. Quando eu não tenho o que fazer, eu vou dormir, ou vou fazer arrumação de guarda-roupa, ou limpeza na minha casa. Eu não sou de sair, beber, eu vivo mais na minha casa. Meus pais me ensinavam: “não tem o que fazer então vai dormir”. Agora eu gosto muito de praia.