Renata, 25 anos

Renata

Renata carrega toda a leveza e agilidade que uma crocheteira tem. 

Não tem como não conhecê-la e não se encantar com a sua beleza. Ela nos mostrou seus amigurumis, suas agulhas com cabo de escova dente. Ao lado da sua mãe, sentadas na calçada, escondidas do sol forte elas produziam, cada uma no seu ritmo. 

Dona Lourdinha, dona de uma loja que vende artesanato e materiais em Macaparana, nos falou do incentivo que dá às meninas que ali vão comprar ou vender algo. De imediato ela nos falou de Renata, que segundo ela é uma ótima crocheteira. Com o contato de Renata em mãos, marcamos nossa conversa. De Olinda, pelo whatsapp, apresentei o projeto e Renata topou nos contar mais sobre ela e sua história, que está emaranhada com a do crochê.

Fomos até a sua casa, conversamos com ela na calçada, ao lado da sua mãe e de seu filho. Renata, além de muito eloquente, é uma mulher muito bonita. Cria, desde agulha com a qual faz seu crochê, colocando uma cabo de escova de dente, aos amigurumis, que executa com agilidade e destreza de uma jovem mulher decida a fazer o que gosta.

Narrativa

A MINHA FAMÍLIA É TODA DAQUI

Eu nasci em São Paulo. A minha família é toda daqui [de Macaparana], aí meu pai comprou uma casa e a gente veio morar aqui. Ele trabalha na prefeitura. Ele gosta mais daqui. Meu pai é de Camutanga, mas a minha mãe é daqui [de Macaparana]. Ele [o pai] trabalhava lá [em São Paulo]. Faz oito anos que a gente tá morando aqui. Tenho uma irmã que se chama Roberta, ela tem 22 anos, e o meu irmão chama Eduardo e tem 29 anos, ele tá lá em São Paulo. Eu sou a do meio, tenho 24.

Eu sou casada. Tenho Davi, de 5 anos.

COM 14 ANOS EU JÁ FAZIA UMAS TRANCINHAS

Lá em São Paulo, eu aprendi com a minha mãe, com 14 anos eu já fazia umas trancinhas, uns pontos altos. Ela foi me ensinando a fazer os paninhos, aí a gente faz aqueles paninhos tronchos, né? todo torto, aí eu fui… comprei uma revista, fiz uma toalha de abacaxi com linha “Anne”, lembro até hoje. Aí ficou perfeito, do mesmo jeito. Aí apareceu internet, né? a gente via videoaula, aí eu faço qualquer coisa.

O crochê é assim, é minha terapia, né? aí eu vendo e apanho meu dinheirinho, né? mas quem trabalha é meu marido. O crochê que eu ganho não dá uma renda, assim, muito não. Ele trabalha o dia todo, é motorista de caminhão.

O crochê, assim, é pra meus gastos, minhas roupas, eu gosto de comprar muita maquiagem, e comprar linha, acho que eu sou viciada em comprar linha [ri]. Se você ver meu estoque?!

EU VI QUE DAVA DINHEIRO E DAÍ COMECEI

Dona Lourdinha [lojista da cidade], me pede algumas coisas, as pessoas pedem outras coisas, aí vai variando, né? De uma, vai falando pra outra, aí daí vem as encomendas. Assim, eu tenho um banco na feira, aí todo sábado eu coloco meus artesanatos lá. Aí eu vendo minhas coisinhas lá.

Quando uma menina pediu pra eu fazer uma passadeira, aí ela disse quanto que era, aí eu botei um preço, aí eu falei assim “cinquenta reis”, aí ela foi e pagou! aí eu vi que dava dinheiro e daí comecei.

O meu dia-a-dia, assim, normal: eu levo meu bebê pra escola, aí eu começo a fazer crochê de duas horas, aí eu faço crochê das duas até às sete horas. Aí, quando tem muita coisa pra eu fazer, assim, muita encomenda, aí eu faço a janta, dou a janta do meu filho, aí eu continuo fazendo até dez, onze horas da noite, tem hora não.

QUEM FAZ CROCHÊ AMA, NÉ?

Gosto de amigurumi, eu fico louca, porque fica tão perfeito! Aí a gente compra aqueles olhinhos de pressão, uma terapia. Quem faz crochê ama, né? Acho que vocês sabem, eu amo. Aí, quando a gente entrega, vê a felicidade das meninas, porque é mais essas meninas grávidas que encomendam.

Eu fazia muito crochê pros outros, mas agora é só pra mim mesmo.

Eu não gosto de fazer pano de prato, vi? não gosto. Assim, o bico eu gosto, mas tu acredita que eu não gosto de fazer essa volta do lado? Mãe ama! ela faz num minuto, mas eu não gosto.

O POVO NÃO SABE O TRABALHO QUE DÁ

Tem gente que acha meu crochê caro, mas o povo não sabe o trabalho que dá. Não sabe da paciência que a pessoa tem que ter, tem que contar os pontos… se você não contar os pontos, fica todo torto.

Quando eu tava grávida eu não fiz crochê, eu só dormia. Quando ele nasceu, eu passei um tempo sem fazer, só fazia uma encomenda se alguém precisasse. Depois que ele ficou maiorzinho eu comecei a fazer de novo. Esse ano foi muito bom pra mim. Fiz o aniversário dele com o dinheiro do crochê.

Eu tô trabalhando pra juntar um dinheirinho pra comprar uma moto, que aqui é muito quente, mulher, pra pessoa andar à pé!

EU FICO TÃO FELIZ QUANDO EU VOU CRIAR COISAS

Artesã é criar coisas, eu fico tão feliz quando eu vou criar coisas, quando dá certo fica perfeito. Artesã pra mim é uma fonte de renda e uma terapia. Pra quem é estressada é ótimo, eu indico.

EU SOU MUITO VAIDOSA

Ser mulher? Ser mulher é ser feminina, né? Assim, eu acho. Eu sou muito vaidosa, aí todo dinheirinho que eu ganho é pra comprar roupa, maquiagem, essas coisas, sapato, adoro, sou doida por sapato!