Vivi trabalha na Associação.
É gentil, generosa e muito grata à vida.
Sabe bordar um pouco, mas quer saber mais.
Conhecemos Vivi na Associação de Mulheres Artesãs de Passira. Ela tava engomando e embalando os vestidos bordados. Perguntamos sua idade e se ela conversaria com a gente sobre como é pra uma mulher jovem trabalhar com algo que as pessoas consideram “coisa da vó”. Ela topou conversar com a gente e voltamos a Passira. Marcamos. Nos encontramos. Era a primeira vez que alguém a “entrevistava”. Ela estava mais uma vez sendo generosa conosco. Escolheu suas fotos, falou de sua vida, do que aprendeu na Associação e das coisas que ela sonha em fazer em sua vida. Ouvimos com muito amor e sorriso no rosto. Vivi gosta de sair, de aprender e nos ensinou muito sobre o que é ser grata ao que temos e às pessoas que nos ajudam.
Narrativa
MINHA INFÂNCIA FOI AQUI
Nasci em Limoeiro. Minha infância foi aqui [em Passira], só nasci lá mesmo. Sempre morei aqui. Tenho uma irmã e um irmão.
Meus pais sempre se mudavam de cidade, iam pra Paraíba, ia pra Recife. À procura de trabalho, né? Meu irmão tem 23 e minha irmã, 22. A minha mãe sabe bordar, faz tudo de bordado, mas não aprendi com ela.
Sou solteira, moro com meus pais. Meu pai trabalha vendendo doce e minha mãe trabalha vendendo produtos da Natura, Avon, Demillus. Ela parou de fazer o bordado [a mãe].
EU FAÇO AULA DE COMPUTAÇÃO
Estudei até os 18 [anos]. Eu fiz um curso de Agroindústria, que fiz pelo IFPE, paguei 30,00 da prova, aí desisti porque era em Vitória (de Santo Antão) e meu pai ficava dizendo que era muito perigoso, aí eu desisti por causa disso. Também, eu não tinha coragem pra abater os animais: rãs, porco, eu não tinha, achei melhor desistir.
Eu faço aula de computação, aqui em Passira mesmo. Eu acho interessante. Eu pesquiso bordados, coleção. A gente vai vendo como vai fazer o vestido, através disso. A gente vai ver árvores, flores, a gente vai pensando…
Design, né? A pessoa vê uma coisa velha e pode transformar em nova, designer eu gosto disso. Acho interessante.
Através da internet a gente pode divulgar mais ainda o trabalho da gente, os bordados, as roupas infantil, né?
QUANDO EU CHEGUEI AQUI PRA TRABALHAR EU NÃO SABIA NADA
Foi bom, aprendi várias coisas, bordado eu não sabia, quando eu cheguei aqui pra trabalhar [na Associação de Mulheres Artesãs de Passira] eu não sabia nada. Não sabia como cortar um vestido, não sabia como embalava o vestido, colocava o botão, não sabia nada, aprendi tudo com D. Lúcia [presidenta e fundadora da Associação]. Ela que foi a mestra. Vai fazer um ano agora dia 4 de fevereiro.
Minha rotina aqui na Associação eu engomo as roupas, os vestidos pras meninas costurar, aí depois vou tirar o fiapo, o pêlo todinho, aí depois coloco o botão, aí depois eu passo ferro de novo e depois eu embalo, boto dentro da bolsinha e pronto, coloco a etiqueta. Fica pronto pra venda. Não bordo não, já tentei aprender a fazer bolinha, pimenta, acho interessante bordado, acho muito lindo, tenho vontade de aprender.
Já tentei, sabe, bordar em casa, mas aqui eu não bordo não.
BORDADO É MUITO INTERESSANTE
Pelo WhatsApp tiro foto e mando. Pego encomendas dos clientes, às vezes eles escolhem o tecido, aí eu repasso pras menina fazer. Negócio, tem que agradar os clientes, né?
Eu acho legal, é uma parte da experiência também que eu não sabia como funcionava, que hoje eu sei como funciona cada parte. Bordado é muito interessante.
O POVO DAQUI DA CIDADE NÃO DÁ VALOR
O povo da terra aqui não valoriza muito, mas os povo, assim, de fora gosta mais do trabalho da gente. O povo mesmo de São Paulo, Rio de Janeiro, acha muito bonito os bordados, agora o povo daqui da cidade não dá valor.
A MÁQUINA É MUITO DIFERENTE DA MÃO, NÉ?
Porque ele é feito à mão, e tem outros bordados que o povo faz por aí que é feito à máquina e é muito diferente. A máquina é muito diferente da mão, né? Na mão você vê uma rosa perfeita, e na máquina fica bem diferente, não fica do tamanho certo, faltando medida, faltando alguma coisa.
SER MULHER É BOM
Ser mulher? ser mulher é bom, ser mulher é desfrutar, né? olhares… é.
APRENDENDO AS COISAS
Trabalho é tudo, trabalho traz inspiração, traz coisas. Traz experiências, as pessoas vão aprendendo as coisas, pegando experiencia, né? Quando você, por exemplo, entrar em outro trabalho você já sabe como você vai fazer.
Artesã é aprender a fazer artesanato, artesanato é crochê, né? flor, essas coisas. Bordado.
Gaguejei até demais, né? Primeira vez, sabe? nunca ninguém fez uma entrevista comigo.