por Clara Nogueira
Fotos Laura Melo
25.376 habitantes (população estimada 2019, IBGE)
126,4 Km²
Mata Norte
Localizada entre norte: Salgadinho e Limoeiro; sul: Gravatá, Pombos e Bezerros; leste: Feira Nova e Glória do Goitá; oeste: Cumaru.
79 Km do Recife
O que fora um rancho de taipa, feito por Manoel Panguengue, veio a se tornar a Vila de Macapá. Foi nas terras do engenho Macapá, do fazendeiro José Francisco do Rego Cavalcanti, que esse rancho foi construído, uma vez que servia estrategicamente de apoio para o comércio e depois para hospedagem dos viajantes. Posteriormente, já com casas construídas, a então Vila de Macapá tornou-se distrito da cidade vizinha, Timbaúba − depois de São Vicente, tornando-se posteriormente seu distrito sede. Somente em 1931 se tornou enfim cidade, e trocou de nome em 1943 para Macaparana. Hoje, o município é formado tanto pelo seu distrito sede quanto pelos povoados de Chã do Relógio, Pirauá, Poço Comprido e Nova Esperança.
“Macaparana é formada por Engenhos, Usinas, Fazendas, Sítios, Vilas e Povoados (Poço Cumprido, Pirauá e lagoa Grande), sendo a maior parte da terras de engenhos (17 ao todo): Paquevira, Conceição, Palma, Balanço, Maçaranduba, Tanque de Flores, Rincão, Macapá Velho, Macapazinho, Limão, Diligência (Latão), Gameleira, Vitória, Três Poços, Lagoa Dantas, Monte Alegre Velho, Bonito, Pedreiras”. Desses sítios mencionados, fomos ao Sítio Pá Seca, um dos que integram o município. Seu nome curioso, “Pá Seca”, nos foi explicado pela mãe de Rosiane, Dona Margarida:
Disseram que o homem adoeceu, a doença dele secou a pá, aí ele morreu desse problema, né? Aí o povo botaram o nome do lugar “Pá Seca” e por “Pá Seca” ficou. A pá é as costas (a omoplata). O povo não diz “tô com uma dor na pá”? Aí o povo fala essa história, faz muito tempo. Eu vi o povo falar e por isso tô dizendo também. Isso é muito antigo. Agora é engraçado: é “Pá Seca de baixo”, “Pá Seca do meio” e “Pá Seca de cima” (ri).
Esse Sítio é composto por cerca de 54 casas, e as famílias que lá habitam conquistaram apenas em 2019 acesso ao abastecimento de água do município, uma iniciativa fundamental, já que grande parte de seus moradores sobrevivem da agricultura. Mas também o crochê é feito aqui, como no caso de Milene e de sua mãe Emília.
O apelido de “A terra dos engenhos”, que é um dos resultados da pesquisa quando buscamos pelo nome “Macaparana”, tem muito a dizer sobre esse município da Mata Norte do Estado de Pernambuco. O Engenho Cipó Branco, que ainda hoje tem a edificação de sua senzala preservada, exemplifica o modelo econômico açucareiro que, tendo formado politicamente quase toda a região nordeste, encontra nos engenhos dessa cidade uma de suas representações tradicionais. “A instalação dos engenhos concentrou poder econômico e político para um grupo familiar que teve seu apogeu com a implantação de uma fábrica de açúcar: A Usina Nossa Senhora de Lourdes. Paralelamente, iniciou-se o também domínio político deste mesmo grupo familiar que controlava a população a partir do voto de cabresto, que se explica devido a sua dependência do trabalho proveniente da concentração de riquezas e do poder político de uma única família. A monocultura do açúcar, assim, tem concentrado o poder econômico, social e político aos donos de engenhos.”
Logo nos primeiros contatos com as pessoas da cidade, entendemos que a cultura do engenho continua ainda muito viva, pois a cidade ainda se reveza politicamente entre o poderio de duas famílias que, na verdade, nasceram de uma mesma raiz genealógica. O que, no plano institucional contemporâneo, representa a continuação da antiga lógica da família patriarcal dos engenhos.
Assim, a briga entre esses familiares divide a cidade tanto política quanto subjetivamente. Tal divergência cruzou o caminha desta pesquisa quando, em Macaparana, percebemos que o motivo principal de termos ido ao município, isto é, o título de “capital Estadual do Crochê” (Lei 15. 279/ 2014, publicada no DOE do dia 1.º de maio de 2014), dado pelo Deputado Estadual Antônio Moraes, era desconhecido por alguns cidadãos, por vezes até ignorado, não tendo, por exemplo, nenhuma citação a respeito do título ou sobre a cultura de algumas mulheres no principal museu da cidade, o Museu Municipal Moura Cavalcanti. O motivo dessa omissão ficou claro logo de início, quando atentamos à repetição e à alternância dos sobrenomes Moraes x Cavalcanti (este último sobrenome do atual prefeito Maviael Cavalcanti) nos principais edifícios relacionados à administração pública.
O Museu Municipal Moura Cavalcanti, que fica no prédio da Prefeitura Municipal de Macaparana, é o local de exibição dessa disputada história oficial da cidade. Adriana Santos, a funcionária que nos recebeu no Museu, nos contou do esforço e das ações que realiza para que o Museu seja um espaço que conte a história da cidade e que seja mantido sempre na rota dos alunos das escolas como um lugar de aprendizado e espaço de fruição e difusão na cultura de Macaparana. O Museu tem no seu acervo principalmente objetos pessoais de José Francisco de Moura Cavalcanti, e divide-se na seguinte estrutura: de um lado, conta por meio de fotografias e banners a história de Moura Cavalcanti e dispõe peças antigas da cidade. De outro, conta a história cultural da cidade, seus dados e seus representantes na música, nas artes visuais, e principalmente na política. Pois dessa cidade, ainda que pequena, saíram muitos políticos de grande importância para o Estado de Pernambuco.
Na cidade há também um outro Museu. Na esquina contrária ao Museu Municipal Moura Cavalcanti, fica localizada a Casa-Museu Fundação Anita Moraes. Ana de Moraes Andrade (Anita) (1906-2003), foi uma mulher muito importante para Macaparana, conhecida entre os habitantes por sua doçura, generosidade e altivez política. Anita Moraes foi vereadora cinco vezes e carrega o representativo título de primeira mulher prefeita de Pernambuco. Segundo o site “Mulher 500 anos atrás dos panos”, Anita “se elegeu vereadora pela primeira vez aos 39 anos e com a quarta-série primária, experimentando perseguições, preconceitos e desafiando tradições que à época mantinham o sexo feminino afastado das discussões e decisões políticas. Anita instalou um alto-falante no primeiro andar de sua casa e através dele denunciava as perseguições sofridas e os desmandos dos coronéis da região, atitude ousada que lhe rendeu muitos inimigos”. O Museu era a casa de Anita, e nela ficam dispostos seus objetos pessoais quase intactos. O zelo pelo espaço é trabalho de alguns poucos responsáveis pela manutenção desse espaço cultural, que são justamente membros da família de Anita.
O Cine Mascarenhas é um dos equipamentos culturais mais interessantes de Macaparana, pois é o principal cinema da cidade. Usado atualmente para projetar filmes para alunos da rede pública, é também onde se localiza a Rádio Macaparana (FM 87.9). O prédio do cinema fica numa rua central, de grande movimento comercial. Ainda assim, está atualmente subutilizado, e, mesmo após uma reforma feita há poucos anos, sua estrutura demonstra a necessidade de mais cuidados. A maior parte do movimento nesse prédio se concentra na rádio, que funciona no Primeiro andar, e que tem uma programação comunitária com audiência popular. Durante nossa visita à cidade, participamos, inclusive, do programa “Bom dia, Macaparana”, de Paulo Silva, que também é vereador do município.
“Macaparana – A cidade das Serras” é o slogan da cidade, dado que tem há serras próximas à parte urbanizada. Algumas dessas serras são a Serra da Pintada e a Pedra do Ouro, que ficam na divisa com o Estado da Paraíba. Nelas, se encontram pinturas rupestres, assim como locais que outrora tiveram extração de minérios. A Pedra do Bico, localizada em Pirauá (distrito de Natuba, Paraíba), vizinha de Macaparana, tem um conjunto rochoso que é destino de muitos atletas e turistas. No centro da cidade, a 10 minutos de carro, subimos o Alto do Cruzeiro, onde fica localizada a Capela de São Francisco de Assis, da qual pode ser avistado todo o centro da cidade. Vista de cima, é perceptível como a cidade foi sendo construída em cima de morros, o que explica porque nela as ladeiras são uma constante.
Na Estrada do Pirauá (com cerca de 18km), que dá acesso ao distrito de Natuba, fica localizada a Igreja de Santa Ana, com uma vista exuberante da Lagoa de Monte Alegre. Ao lado da Igreja, construída no século XIX, existe um cemitério secular. Um pouco mais adiante, na mesma Estrada avistamos as turbinas eólicas que formam o primeiro parque eólico da Mata Norte do Estado, como informa o Guia “Desbrave Macaparana”.
Muita gente em Macaparana não vai com frequência a alguns desses lugares que citamos, mesmo sendo eles pontos turísticos, rotas conhecidas dos desbravadores da Mata Norte. Algumas pessoas com quem conversamos ressaltaram, no entanto, o Rio Bonito como sendo um lugar de refúgio e divertimento mais frequentado pelos moradores da cidade. A 20 minutos de carro do centro, o Rio fica como que escondido entre uma vasta plantação de bananeiras. Para chegar nele, passamos por um Engenho e suas ruínas. O Rio, na época em que fomos, não estava muito cheio, mas alguns moradores nos garantiram que lá era um lugar bom de tomar banho, fazer churrasco e descansar.
Na “rua”, como chamam o centro de Macaparana, há vários lugares que fazem dela uma cidade atrativa. Todos os sábados acontece a Feira Livre de Macaparana, onde pode ser encontrado um pouco de tudo: de temperos a artigos de cozinha. O crochê, o artesanato que interessa a esta pesquisa, estava também sendo bravamente vendido na banquinha da família de Renata. O bolo de rolo, que é uma das maracas identitárias da cidade, segundo Adriana, administradora do Museu Municipal Moura Cavalcanti, pode lá também ser encontrado com fartura. A feira, de fato, cumpre uma função importante na vida dos moradores, porque muita gente que mora nos sítios e povoados vizinhos aguardam o sábado para comprar tudo que precisam. A feira se estende por ruas, bequinhos e vielas que ficam no entorno do Mercado Público.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo, também no centro, recebe católicos de vários lugares, em novembro, na festa da padroeira, que dura uma semana. Segundo o guia “Desbravando Macaparana”, há ainda duas festas que movimentam a cidade durante o ano: uma delas é a Cavalgada Ecológica, que acontece desde 1997, no mês de junho, pra qual vem gente de várias regiões do Estado a cavalo. E a outra é a Festa do Agricultor, que é tradicional do distrito de Paquevira, na zona rural do município, e que em 2020 completa 15 anos de existência.
1 “O filólogo Mário Melo mudou o nome de Macapá para Macaparana, uma vez que Macapá, nome de uma palmeira existente na época em abundância na região, já era o nome de outra cidade brasileira. Para uns, Macabá é o nome de uma palmeira. Para outros, significa “pomar de macabas”, que é o fruto de uma palmeira. Macaba ou bacaba provém do tupi iwa-kawa: “fruta gorda, graxa”. Mário Melo criou o termo Macaparana adicionando a desinência rana (macapá + rana), cujo significado em tupi é “semelhante, parecido”. Então, Macaparana seria parecida com a outra, com Macapá.” Fonte: http://macaparana.pe.gov.br/portal/historia-da-cidade/)
2 Site Prefeitura de Macaparana http://macaparana.pe.gov.br/portal/historia-da-cidade/)
3 ver narrativa de Rosiane.
4 ver narrativa Milene.
5 ver narrativa de Emília.
6 Texto sobre a história de Macaparana http://macaparana.pe.gov.br/portal/historia-da-cidade/