1.488.920 habitantes (população estimada 2022, IBGE)
218,43 Km²
Região Metropolitana – Núcleo Centro
Localizada entre Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço da Mata, Camaragibe, Olinda e Paulista
Recife, capital do estado de Pernambuco, é uma cidade rica em história, com suas origens ligadas à época colonial. Fundada em 1537 pelos colonizadores portugueses, seu nome faz referência aos recifes de coral que cercam grande parte do seu litoral.
Durante o século XVII, a cidade foi ocupada pelos holandeses, período no qual foi construída parte importante da sua urbanização, especialmente os bairros antigos. Entre 1630 e 1654, os holandeses, sob o comando do conde Maurício de Nassau, dominaram Recife e transformaram a cidade em um importante centro administrativo e comercial ultramarino. Nassau passou para a história e para o imaginário da cidade como tendo sido condutor de melhorias urbanísticas e culturais, como canais e pontes que renderam à cidade o apelido de “Veneza Brasileira”. Ao longo do século XIX, Recife tornou-se um centro de efervescência cultural e política. Nesse século, movimentos de contestação à Coroa portuguesa, como a Revolução Pernambucana de 1817, criaram na identidade do povo pernambucano um sentimento de combatividade que ainda perdura.
Localizada à beira do Oceano Atlântico, Recife é uma cidade costeira cortada por rios, canais e pontes, e vários dos seus bairros carregam no nome essa característica geográfica, como é o caso dos bairros de Afogados, Beberibe, Água Fria, Várzea, entre outros. A cidade é banhada pelos rios Capibaribe, Beberibe e Tejipió, que criam ilhas interligadas por mais de 50 pontes, reforçando sua semelhança com cidades europeias, como a já citada Veneza. A divisão administrativa de Recife é organizada em 94 bairros. A divisão de renda e os investimentos em políticas públicas geram, entre seus bairros, fortes discrepâncias, acentuando desigualdades urbanas, econômicas e sociais.
Atualmente, Recife é um dos maiores centros econômicos do Nordeste e do Brasil. Sua economia é diversificada, com forte presença no setor de serviços, indústria e tecnologia. Na cidade, há um centro de excelência em estudos e criação de produtos de tecnologia, o Porto Digital. O turismo é uma das principais atividades econômicas de Recife. Além das praias urbanas, a cidade é conhecida por suas manifestações culturais e históricas.
Como é o caso de muitas outras capitais do Nordeste do Brasil, também em Recife herdeiros da velha estrutura oligárquica ligada à economia colonial (no caso de Recife, da economia açucareira) são ainda atores relevantes na política local, determinando com frequência os rumos da cidade. Nos últimos anos, em particular, tem havido uma disputa renhida entre organizações da sociedade civil e as grandes empresas do ramo imobiliário em torno de qual tipo de projeto urbanístico deve orientar o futuro da cidade. Vale citar, por exemplo, o movimento Ocupe Estelita, que, inspirado em outros movimentos ao redor do mundo, teve como pauta a democratização de um espaço público arrematado em 2008, em um leilão ilegal, pelo Consórcio Novo Recife, capitaneado por empresas como a Moura Dubeux.
O porto de Suape, localizado na região metropolitana, é um dos mais importantes do país, embora, como consequência do seu impacto ambiental, hoje uma parte das praias de Recife, caso de Boa Viagem, a mais famosa delas, seja imprópria para banho, em função de ataques de tubarão. Além destas consequências, há a resistência da comunidade pesqueira e moradores que sofrem com programas de desenvolvimento do Complexo de Suape, com a retirada, remoção e exclusão de comunidades quilombolas, como é o caso do Quilombo Mercês (reconhecido pela Fundação Palmares).
Recife é uma cidade cuja história colonial convive com o desenvolvimento moderno e com as mazelas sociais dos grandes centros urbanos do nosso país. As suas tradições culturais, aliadas ao crescimento econômico e urbano, tornam-na um dos principais destinos do Brasil, tanto para quem busca lazer e cultura quanto para negócios e inovação tecnológica. Uma cidade que, ao longo de séculos, se reinventou, e cuja população luta diariamente para preservar a essência de sua identidade, ligada às manifestações de resistência política e cultural.
Quanto à sua cultura, a cidade é vibrante e diversa, congregando manifestações culturais que aproveitam elementos de todas as culturas, em sua maioria de origem indígena, afro-brasileira e europeia.
Essa diversidade pôde ser sentida nas visitas que fizemos às Mulheres que Tecem, quanto às tipologias artesanais, modos de fazer, formas de repasse desses conhecimentos, etc. Conversamos com mulheres em vários bairros: no Bairro Boa Viagem, com Luciana Queiroga, que nos contou sobre seus processos de criação à frente de sua marca, Olívia Shibori, por meio da qual se dedica ao tingimento natural; e com Luciana Borre, professora, artista e pesquisadora. Lu nos falou sobre o ensino formal das Artes Visuais na UFPE, onde leciona e desenvolveu o projeto “Tramações”. Luciana traz em sua poética os têxteis e sua imprescindibilidade.
O repasse dos saberes, de forma familiar, foi sentido nas visitas às irmãs Bruna e Renata, da Vem Meu Bem, e com Teresa França e sua filha, Oluyiá. Bruna e Renata levam à marca Vem Meu Bem seu entrosamento e familiaridade. Através do crochê, confeccionam manualmente peças contemporâneas que unem moda, estética e militância. Já Oluyiá e Teresa, apesar de trabalharem juntas em muitas obras, e de terem feito muitas exposições juntas, também têm seus próprios caminhos. Oluyiá desenvolve um trabalho que une design de moda, artesania e memória, com suas peças de vestuário, que carregam símbolos e rastros ancestrais. Teresa, por sua vez, une em seus bordados as inspirações do bordado mexicano à experimentação de camadas de bordados sobre tecidos, tendo as suas estampas como suporte.
No bairro de Casa Amarela, conversamos com Brenda Bazante, que traz ao projeto a pluralidade de materiais, técnicas e aplicações dos elementos têxteis em seu trabalho artístico pessoal. Sua poética abarca, além da técnica têxtil, o uso de cores e símbolos que atravessam sua poética e trajetória pessoal. No mesmo bairro, conversamos com Bete Paes em seu ateliê. Bete tem um trabalho reconhecido com a estamparia. No livro “Estampa brasileira”, Bete reúne vários trabalhos, sempre aliando tipologias artesanais ao seu estilo marcante e contemporâneo, que já lhe rendeu diversas premiações. Ela nos contou o avesso de algumas dessas histórias.
Conversamos também com Maria Helena (Mahelena), que tem o projeto Vibrando em Linhas, sua marca para compartilhar seus trabalhos têxteis em Macramê. Mahelena nos contou sobre a sua trajetória de vida e seus processos e poética na confecção de suas obras, no térreo do conjunto habitacional onde nasceu e cresceu.